
Mãe de vítima do voo 2283 critica Voepass: ‘É como se eles matassem nossos familiares outra vez”
A nota emitida pelas famílias contesta as declarações da Voepass, alegando que a tragédia não foi uma variável causadora dos problemas financeiros da empresa, mas sim o contrário...

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Por Silmara Santos
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A Voepass Linhas Aéreas, no dia 3 de fevereiro deste ano, divulgou um comunicado em que informa sobre a entrada de um pedido de tutela preparatória. A ação, conforme a legislação vigente, visa a reestruturação de suas obrigações financeiras de curto prazo e o fortalecimento da estrutura de capital para buscar sustentabilidade a longo prazo.
A empresa busca com o pedido organizar seus passivos e fluxo de caixa. No comunicado também foi mencionado que a companhia possuía uma ampla malha e saúde financeira para continuar com a expansão programada. No entanto, a expansão teria sido impactada, segundo a empresa, a partir do acidente do voo 2283, ocorrido em 9 de agosto de 2024.
A equipe de reportagem da CGN entrou em contato com Maria do Rosário de Fátima Albuquerque, mãe da médica Arianne Estevam Risso, uma das 62 vítimas fatais do acidente. Fátima, que também é uma das representantes da Associação dos familiares das vítimas do voo 2283, revelou que após a declaração da empresa, nesta semana as famílias decidiram emitir uma nota de repúdio sobre o assunto.

A associação, composta por 122 familiares, foi criada com o intuito de oferecer apoio psicológico e um espaço para compartilhamento de informações. Fátima detalhou que a tragédia coletiva impactou profundamente a vida de todos, causando mudanças drásticas de vida, cidade e até mesmo de planos familiares.
A nota emitida pelas famílias contesta as declarações da Voepass, alegando que a tragédia não foi uma variável causadora dos problemas financeiros da empresa, mas sim o contrário. Segundo Fátima, a manutenção precária das aeronaves, resultado dos problemas financeiros pré-existentes da empresa, foi a verdadeira causadora da tragédia.
“Na verdade, essa é uma nota que a gente já vinha, desde o primeiro momento que nós vimos, o pedido de recuperação judicial. Antes de ser deliberado, nós já íamos saltar essa nota, porque eles usaram a tragédia como também uma variável causadora dos problemas financeiros deles. E não é verdade, é exatamente o contrário. A tragédia aconteceu porque eles já haviam problemas financeiros. A manutenção das aeronaves não existia praticamente. Então, a causadora foi o desleixo, essa recuperação deveria ter sido feita antes. Então, é como se eles matassem nossos familiares outra vez, quer dizer, nós somos as vítimas. Nós somos os matados, justamente por causa dos problemas financeiros deles. Então, eles foram negligentes quando não solicitaram, não pararam essas aeronaves a tempo” explicou Maria.
Ela ressalta que, ao contrário de outros negócios, a aviação envolve riscos à vida humana, e que a continuidade das operações da empresa, mesmo em condições precárias, colocou em risco as vidas dos passageiros.
“Eu sempre digo, quando você tem uma livraria e você pede uma recuperação judicial, você pode mantê-la aberta, porque você não vai afetar a vida de ninguém. Você tem uma loja de roupas, você pode mantê-la aberta, mas uma aviação, um transporte, você entendeu? Seja ele terrestre, onde você tem todo o material dos seus veículos sucateados, você está colocando em risco as pessoas. Então, você não pode continuar, você tem que parar, e eles não fizeram isso” disse.
A representante da associação expressou a indignação das famílias com a situação e reiterou que a recuperação judicial da Voepass é mais uma prova da negligência da empresa.
“Então, esse pedido de recuperação também foi uma prova da negligência deles, da culpa deles nesse sentido. E eles ainda o nos usam para conseguir essa recuperação, quando, na verdade, ela também foi causadora. Porque as aeronaves, nós tínhamos dezenas de vídeos mostrando as condições dessas aeronaves a Voepass. Então, é nesse sentido que nós ficamos extremamente revoltados. A gente deveria ter saltado essa nota antes, porque não é verdade. Não é verdade. Que foi após a tragédia que eles passaram a ter problemas financeiros. Eles já haviam um problema financeiro. Eles causaram a tragédia com os problemas financeiros deles. Então, é exatamente o oposto” finaliza Fátima.
Para acessar a nota completa da Voepass clique aqui.
A tragédia
O acidente, que ocorreu no dia 09/08/2024, deixou 62 vítimas – 58 passageiros, quatro tripulantes e uma cachorrinha de estimação – e marcou uma das páginas mais tristes da aviação brasileira.
A aeronave, que partiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP), caiu minutos antes de chegar ao destino, em um condomínio de casas em Vinhedo (SP). A tragédia chocou o país e o mundo, e colocou em xeque a segurança do transporte aéreo, considerado o mais seguro do mundo.
O relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), apresentado no dia 06/09/2024, apontou falhas no sistema DE-ICING, responsável por evitar a formação de gelo na aeronave. No entanto, ainda não se sabe por que uma aeronave certificada para voo em condição de gelo, comandada por pilotos experientes e com tripulantes devidamente habilitados, perdeu o controle.
No meio de tantas perguntas sem respostas, o que fica é a dor da perda. Crianças, profissionais da saúde, empresários, avós, mães, pais e filhos tiveram seus sonhos e planos interrompidos de forma abrupta. As vítimas, antes anônimas, voltaram para suas cidades em caixões fechados, sob o olhar marejado de uma nação em luto.
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