Em memória das vítimas do voo 2283
Hoje completa um mês da queda do avião da VoePass (antiga Passaredo), que decolou de Cascavel/PR e deveria ter pousado em Guarulhos/SP. Com isso, o acidente...
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09/08/2024. Para 62 famílias, essa data nunca mais será esquecida. Para a aviação brasileira, também. Quem poderia imaginar que naquela sexta-feira, gelada e com um céu tão azul, tudo se tornaria cinza e angustiante de forma tão rápida?
Hoje completa um mês da queda do avião da VoePass (antiga Passaredo), que decolou de Cascavel/PR e deveria ter pousado em Guarulhos/SP. Com isso, o acidente do voo 2283 passou a integrar a lista dos acidentes aéreos mais trágicos do Brasil:
- TAM (2007): Considerada a maior tragédia da aviação brasileira, com 199 mortos;
- GOL (2006): A colisão no ar entre o Boeing 737 da Gol e o jato Legacy deixou 154 mortos. Toda as vítimas estavam no Boeing;
- VASP (1982): seis alarmes de alerta de colisão soaram na cabine, mas todos foram ignorados pelo piloto. A aeronave colidiu contra a Serra da Aratanha, deixando 137 mortos;
- TAM (1996): 24 segundos após a decolagem, a aeronave caiu sobre oito casas da Rua Luís Orsini de Castro, no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo. 99 pessoas morreram, sendo 96 a bordo e três em solo;
- Air France (2009): O acidente ocorreu em zona internacional, no Oceano Atlântico, mas vale a pena ser lembrado, pois dos 228 mortos, 58 eram brasileiros;
- Voepass (2024): 62 mortos.
Naquele dia, poucos minutos antes de chegar ao destino, a aeronave entrou em “parafuso chato” e caiu dentro de um condomínio de casas em Vinhedo/SP, vitimando todos os 58 passageiros, quatro tripulantes e a cachorrinha Luna, que pertencia à uma família venezuelana a bordo do voo 2283.
Sentiram e ouviram os motores acelerando e desacelerando. Sentiram o avião girando no sentido horário. Aqueles que tiveram coragem de manter os olhos abertos viram a terra se aproximando. Provavelmente todos souberam que iriam morrer. Mas jamais se saberá o que cada um disse, como cada um reagiu, qual foi o último pensamento de cada um.
Trecho do livro “Perda Total”, de Ivan Sant’anna
As notícias e vídeos do momento da queda do avião não paravam de chegar. Cascavel virou notícia nacional. Quem eram as vítimas? Quais foram as causas do acidente?
Familiares, imprensa, autoridades políticas e da aviação começaram a se reunir para entender o que havia acabado de acontecer e repassar as informações que ninguém está acostumado a ouvir, afinal, 62 pessoas perderam a vida no meio de transporte que é considerado o mais seguro do mundo.
Foi a primeira vez que Cascavel esteve diretamente ligada à uma tragédia que chocou o país e o mundo. Os cascavelenses sentiram na pele a dor, a tristeza e o luto após a notícia de que muitos conterrâneos haviam morrido de forma tão trágica.
O relatório preliminar, contendo informações factuais sobre o acidente do voo 2283, foi apresentado no dia 06/09/2024 em uma coletiva de imprensa realizada no Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), em Brasília/DF.
Foi possível constatar a partir da análise das comunicações registradas pelo gravador de voz da cabine e pelo gravador de dados de voo, que os tripulantes comentaram sobre uma falha no sistema DE-ICING, utilizado para a proteção contra formação e acúmulo de gelo na aeronave, e que o sistema AIRFRAME DE-ICING, responsável por evitar que ocorresse acúmulo de gelo nas asas, foi ligado e desligado diversas vezes.
Portanto, é sabido que, a perda de controle da aeronave da VoePass ocorreu durante o voo sob condições favoráveis à formação de gelo, mas não houve declaração de emergência ou reporte de condições meteorológicas adversas.
Assim, resta saber como e porque a aeronave, certificada para voo em condição de gelo e comandada por pilotos experientes e treinados para este tipo de voo, acompanhados de duas comissárias, ambas com Licença de Comissária de Voo (CMS) e com as habilitações para a aeronave tipo AT47 em vigor, foram vítimas, junto com outras 58 pessoas, deste trágico acidente. Estas são perguntas que ainda não tem respostas e que deverão ser respondidas até a entrega do Relatório Final.
O acidente do voo 2283 deixou uma ferida aberta na comunidade e que levará anos para cicatrizar. Foram 62 vidas perdias, mais incontáveis histórias, sonhos e planos perdidos em menos de um minuto. De forma abrupta e amargamente a despedida aconteceu.
Durante uma semana, as vítimas foram sendo identificadas e os corpos liberados para sepultamento. Aqueles, antes anônimos, que embarcaram no voo 2283, voltaram para suas cidades sob muitos olhares, a maioria marejados pelas lágrimas. Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) pousaram no Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva, em Cascavel, trazendo os caixões das vítimas. Com urnas fechadas, tivemos que nos despedir sem ao menos um abraço ou um beijo. Só memórias.
Perdemos crianças, profissionais da saúde, empresários, avós, mães, pais e filhos. Será mesmo que era a “hora” deles ou a tragédia poderia ter sido evitada? Infelizmente, a resposta não parece tão simples e envolve questões filosóficas e técnicas.
O que resta, além das lembranças dos entes queridos, é esperar que o acidente seja esclarecido e que a justiça alcance aqueles que necessitam ser responsabilizados. Que as 62 vidas perdidas não sejam em vão e que a aviação aprenda com esse acidente para que as causas da queda da aeronave da VoePass não se repitam.
Em memória de:
Tripulantes:
- 1. Debora Soper Avila, de 28 anos
- 2. Rubia Silva de Lima, de 41 anos
- 3. Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos
- 4. Danilo Santos Romano, de 35 anos
Passageiros:
- 1. Rosangela Souza
- 2. Eliane Andrade Freire
- 3. Luciani Cavalcanti
- 4. Jose Fer
- 5. Denilda Acordi
- 6. Maria Auxiliadora Vaz de Arruda
- 7. Jose Cloves Arruda
- 8. Nelvio Jose Hubner
- 9. Gracinda Marina Castelo da Silva
- 10. Ronaldo Cavaliere
- 11. Silvia Cristina Osaki
- 12. Wlisses Oliveira
- 13. Hialescapine Fodra
- 14. Daniela Schulz Fodra
- 15. Regiclaudio Freitas
- 16. Simone Mirian Rizental
- 17. Josgleidys Gonzalez
- 18. Maria Parra
- 19. Joslan Perez
- 20. Mauro Bedin
- 21. Rosangela Maria de Oliveira
- 22. Antonio Deoclides Zini Junior
- 23. Kharine Gavlik Pessoa Zini
- 24. Mauro Sguarizi
- 25. Leonardo Henrique da Silva
- 26. Maria Valdete Bartnik
- 27. Renato Bartnik
- 28. Hadassa Maria da Silva
- 29. Raphael Bohne
- 30. Renato Lima
- 31. Rafael Alves
- 32. Lucas Felipe Costa Camargo
- 33. Adrielle Costa
- 34. Laiana Vasatta
- 35. Ana Caroline Redivo
- 36. Jose Carlos Copetti
- 37. Andre Michel
- 38. Sarah Sella Langer
- 39. Edilson Hobold
- 40. Rafael Fernando dos Santos
- 41. Lizibba dos Santos
- 42. Paulo Alves
- 43. Pedro Gusson do Nascimento
- 44. Rosana Santos Xavier
- 45. Thiago Almeida Paula
- 46. Adriana Santos
- 47. Deonir Secco
- 48. Alipio Santos Neto
- 49. Raquel Ribeiro Moreira
- 50. Adriano Dalu Cabueno
- 51. Miguel Arcanjo Rodrigues Junior
- 52. Diogo Ávila
- 53. Luciano Trindade Alves
- 54. Isabella Santana Pozzuoli
- 55. Tiago Azevedo
- 56. Mariana Belim
- 57. Arianne Risso
- 58. Constantino Thé Maia
- Cachorrinha Luna, que pertencia à família de Josgledys Gonzalez, que estava a bordo com a filha, Maria Parra, e o neto, Joslan Perez.
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