Relembre o caso Ailson Ortiz; assassino segue preso, mas interpôs recurso contra decisão condenatória
O jovem, que estava indo ao trabalho, foi baleado após uma briga de trânsito. Segundo informado, Ailson pilotava uma moto, quando teria sido fechado por um...
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O homicídio de Ailson Augusto Ortiz, na época com 21 anos de idade, completou um ano no mês passado. O crime aconteceu em uma manhã de quinta-feira em março de 2022, no cruzamento das ruas Cuiabá e Manoel Ribas, no Bairro Neva.
O jovem, que estava indo ao trabalho, foi baleado após uma briga de trânsito. Segundo informado, Ailson pilotava uma moto, quando teria sido fechado por um Renault Fluence, conduzido por Elias da Silva Pires, motivo que deu início a discussão.
Durante a confusão, registrada por imagens de uma câmera de segurança, ambos desceram dos veículos e trocaram agressões e xingamentos, momento em que Elias sacou a arma e disparou várias vezes contra Ailson.
A situação chamou a atenção e assustou os moradores da região. Nas imagens das câmeras também foi possível notar que o assassinou os ameaçou com a arma em punho. Eles testemunharam o fato e encontraram Ailson já sem vida caído no asfalto.
Após o crime, os familiares da vítima mostraram bastante comoção e contaram um pouco sobre a personalidade do jovem morto e como teria sido as suas últimas horas de vida. O pai de Ailson relatou que ele era um garoto doce e que nunca tinha se envolvido em confusões, sendo que naquele dia, ele teria deixado a namorada no serviço e estaria se deslocando para trabalhar.
Durante as investigações, no mesmo dia em que o crime foi cometido, a Delegacia de Homicídios conseguiu identificar o autor e descobriu que ele tinha registro de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador), mas não possuía porte da arma.
Ainda, constataram que uma pistola calibre 380 foi utilizada para cometer o homicídio. O armamento chegou a travar durante a execução, porém os policiais informaram que três estojos foram deflagados e duas munições intactas foram encontradas no local.
Um dia após o crime, Ailson foi velado e sepultado sob um clima de muita tristeza e revolta entre os amigos e familiares. Em uma rede social, a namorada de Ailson fez uma homenagem ao jovem: “Eternos namorados e para todo sempre juntos, mesmo que em planos diferentes. Te amo demais, meu amor”.
Elias ficou foragido e apenas se apresentou no dia seguinte ao crime. Enquanto isso, a DH trabalhava para solucionar o caso, tendo, inclusive, trabalhado com a hipótese de legítima defesa, visto que o autor poderia ter reagido após ser agredido pela vítima.
Na época, conforme o entendimento de um advogado especializado na área criminal, os limites da legítima defesa teriam sido extrapolados por Elias, pois ele atirou contra Ailson enquanto o jovem já estava caído e ainda tentou realizar mais disparos, mesmo após a arma ter travado.
Elias se apresentou e foi ouvido na Delegacia após o período de flagrante ter sido ultrapassado. Neste dia, o advogado de defesa, comentou que o autor encontrava-se muito abalado com a situação. Além disso, ele revelou que no dia do acontecimento, Elias estaria indo levar os filhos ao colégio e, posteriormente, iria até um clube de tiro.
Após o interrogatório, que finalizou durante a noite de sexta-feira, Elis foi preso preventivamente. Depois da prisão o Delegado responsável pelas investigações, contou mais detalhes sobre o interrogatório e a ficha criminal do autor.
Para as autoridades, ele disse não se lembrar do início da confusão, mas declarou que Ailson o xingou e o golpeou, sendo que a única maneira de defesa que encontrou, foi sacando a arma e efetuando os disparos.
A respeito das passagens pelo setor policial, o Delegado destacou que Elias possuía anotações de desavenças com vizinhos, perturbação de sossego e também por ameaça com arma fogo.
Três dias depois da tragédia, a família e amigos de Ailson se reuniram no calçadão em frente a Catedral Nossa Senhora Aparecida para pedirem por justiça. A mãe do jovem estava bastante abalada e se mostrou pouco confiante na justiça ao afirmar que as leis brasileiras são muito brandas.
Para o pai de Ailson, a manifestação, além de ser voltada para cobrar justiça das autoridades, também foi uma forma de conscientizar a população para que seja mais tranquila no trânsito e mais amorosas na convivência com as pessoas, pois nunca sabemos quando será a última despedida.
Cerca de um mês e meio após o crime, aconteceu no Fórum de Cascavel, a audiência de instrução do caso para que o acusado e várias testemunhas fossem ouvidas. Este dia ficou marcado pela realização de um ato pacífico, em que os familiares, novamente, pediam por justiça.
Ao término da audiência, o juiz determinou que Elias iria a julgamento pelo Tribunal do Júri, sendo a sessão agendada para o dia 28 de junho de 2022, ocasião em que ele seria julgado por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e por utilizar recurso que dificultou a defesa da vítima.
No dia do júri, toda a família e amigos estiveram no Júri para acompanharem de perto o julgamento de Elias. O acusado também participou da sessão de forma presencial.
Durante o julgamento, a esposa de Elias foi ouvida e relatou que diariamente a família passava pela rua onde o crime aconteceu, pois aquele era o trajeto realizado para que os filhos do casal fossem levados à escola. Ao contrário do que foi informado pelo advogado de defesa no dia da apresentação do acusado na Delegacia, a mulher contou que ambos retornariam para casa após deixarem as crianças no colégio.
Esta foi uma informação relevante, pois, conforme é sabido, um atirador esportivo (CAC) só pode deslocar com a arma enquanto estiver a caminho do local em que realiza os treinamentos de tiro.
Depois das oitivas e dos debates, o conselho de sentença entendeu que Elias era culpado pelo crime, sendo condenado pelo magistrado por homicídio qualificado conexo ao crime de porte ilegal de arma de fogo. A soma das penas resulta em 19 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão.
Após a sentença, a mãe de Ailson relatou que iria conseguir dormir mais sossegada, porém, a saudade seria eterna. Já o advogado de defesa, não ficou satisfeito com a decisão, pois no seu entendimento, o caso deveria ter sido tratado como legítima defesa e que as qualificadoras empregadas foram injustas.
A equipe da CGN entrou em contato o advogado de Elias, o doutor Verli Farias, que informou que ele está custodiado na PETBC (Penitenciária Estadual Thiago Borges de Carvalho), antiga PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel).
Diante da condenação do seu cliente, a defesa interpôs com um recurso no Tribunal de Justiça do Paraná contra a sentença, requerendo a realização de um novo júri, porém, o pedido ainda não foi julgado pelos desembargadores.
A lamentável situação que ocasionou a morte de Ailson Augusto Ortiz é mais um caso de violência registrado em Cascavel e que poderia ter sido evitado, caso os envolvidos tivessem tido mais paciência.
Nos meses que se seguiram à morte de Ailson, o Ministério Público em conjunto com a Polícia Civil, lançaram uma campanha intitulada de “Conte até 10”, a fim de conscientizar os cidadãos sobre a importância de manter a calma diante de situações que, facilmente, seriam contornadas.
Em 2022, as mortes de Ailson e Gabriel Baiça, morto na fila de drive-thru do McDonal’s, marcaram todos os cascavelenses. Em ambos os casos, as discussões que motivaram os crimes, tomaram rumos trágicos, visto que uma simples ação impensada e por impulso gerou tristeza e transtornos a todos os envolvidos e às respectivas famílias.
Mais recentemente, as 5ª e 16ª Promotorias do Ministério Público, lançaram a campanha “Deixa pra lá”. A ação tem apoio da Prefeitura de Cascavel, Câmara de Vereadores, 15ª SDP e Agecin e busca mobilizar e promover reflexão, para que todos tenham mais empatia e evitem qualquer tipo de violência, a fim de que vidas sejam salvas.
Assim, vale a pena destacar que não vale a pena se por em risco ou reagir de forma violenta face a uma situação passageira. Evite o sofrimento, evite a morte, evite “responder à altura” e busque sempre a justiça e o apoio das forças de segurança quando se sentir ofendido ou ameaçado.
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