Autismo e fogos de artifício: “Devemos celebrar de maneira alegre e livre de sofrimento para todos”, diz Neurologista
O Neurologista especialista em Pediatria, Dr. Alexandre Lourenço Andrade, disse que os fogos de artifício podem causar crises de choro e medo incontroláveis....
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Por Deyvid Alan
A discussão em torno das comemorações de final de ano é sempre tema entre amigos e família. Assim como beber uma garrafa de espumante ou usar roupas brancas, fazer simpatias ou pular as sete ondas, os fogos de artifício com efeitos visuais e sonoros marcam, na chegada da meia noite do dia 1º de janeiro, o fim de um ciclo e o início do outro.
No entanto, a discussão do que fazer e como comemorar a chegada do novo ano, tem ido além. Nesta última semana de 2021, diversos vídeos e apelos de mães e cuidadores de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tomaram conta das redes sociais, todos pedindo para que os fogos de artifício sejam eliminados das comemorações na noite da virada do ano, ou ao menos que se usem fogos com ruídos mais baixos.
Enquanto muitos veem os fogos como sinônimo de alegria, para as pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Alzheimer, e às suas famílias, trata-se de uma verdadeira perturbação que afeta não somente durante o momento da virada, mas por vários dias.
Segundo o Neurologista especialista em Pediatria, Dr. Alexandre Lourenço Andrade, o problema acontece pois muitos indivíduos com TEA apresentam uma hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente.
“Muitas crianças do espectro autista apresentam hipersensibilidade sonora, dessa forma, o barulho dos fogos de artifícios podem gerar irritabilidade, medo, pânico, e dificuldade em se auto regular, gerando comportamento agressivo, crises de choro e medo incontroláveis”, ressaltou o Neurologista.
Elisandra, mãe do Samuel de 12 anos, atendido na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), disse a utilização de fogos de artifício é um sério problema para o filho e toda a família. Para ela, a soltura de fogos é o pior momento do final de ano.
“O Samuel tem muito medo, ele já chegou a convulsionar por consequência dos fogos de artifícios. Desde então, antes da virada, sempre estamos dentro de casa e na maioria das vezes dormimos antes da meia noite para evitar o problema”, disse Elisandra.
O drama relacionado aos fogos de artifício é muito semelhante para a mãe do pequeno Pietro de seis anos. Juliane Cassemiro contou que o filho passa muito mal por conta da sensibilidade auditiva. Mesmo tentando abafar o som colocando as mãos nos ouvidos e até mesmo com o auxilio de remédios, ele fica muito irritado e agressivo.
“É frustrante tentar acalmá-lo e não conseguir. Ele fica muito incomodado, nervoso e não é momentâneo. Depois que os fogos acabam, demora vários dias para que ele consiga fica bem novamente. É muito triste”, relatou.
Os transtornos provocados pelos fogos ocorrem em autistas que apresentam alterações no processamento sensorial, fazendo com que certos estímulos – ou neste caso, sons – sejam sentidos de uma forma diferente e a reação a este estímulo aconteça de maneira mais intensa.
Não apenas os autistas, mas pessoas acamadas e idosas também sofrem muito com a soltura de fogos de artifício. É o caso de Nadir, filha da dona Conceição de 82 anos que sofre de Alzheimer em estágio avançado.
Para ela, o momento que deveria ser de alegria e descontração vira um grande tormento, já que a mãe, por não entender o que está se passando, entra em uma crise de pânico.
“Depois que descobrimos a doença e à medida que foi avançando, a situação ficou ainda mais complicada. No momento da queima de fogos, toda a família fica fechada em casa tentando distraí-la. Ligamos o som, conversamos, cantamos, para que ela não ouça as explosões”, contou.
Nadir disse que para manter o momento especial ao lado da mãe, a família organiza medidas comportamentais e ambientais no intuito de garantir uma passagem de ano sem crises ou contratempos.
Como proteger as crianças autistas?
Dr. Alexandre explicou que uma tentativa de manejar as crises é usar um fone de ouvido antirruído nas crianças que aceitam.
O médico que atende na Clínica Proneuro de Cascavel, disse ainda que durante os momentos de agitação, é importante confortar a criança, tentar abraçar e dar suporte emocional.
“Por isso, pra todos, pais ou não de autistas, tenhamos a sensibilidade com essas crianças. Uma dica pra quem faz questão de celebrar com pirotecnia é escolher fogos de artifícios sem ruídos sonoros, pra que possamos dar boas vindas a 2022 de maneira alegre e livre de sofrimento para todos!”, completou.
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