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Políticas potencializam trajetórias e criam oportunidade para jovens
© Arquivo pessoal/Divulgação

Políticas potencializam trajetórias e criam oportunidade para jovens

“Me senti muito acolhida e fui gostando cada vez mais das aulas, com os psicólogos, fui saindo do sedentarismo, criando novos hábitos e conhecimentos. Hoje sou......

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Por CGN

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Políticas potencializam trajetórias e criam oportunidade para jovens
© Arquivo pessoal/Divulgação

A jovem Nayane Silva (foto) era estudante do primeiro ano do ensino médio quando engravidou da filha, aos 18 anos. “Estudei até quando eu estava com seis meses de gestação, a barriga foi crescendo, não tinha como subir uma rampa que dava acesso à escola, então parei os estudos”, conta ela, que passou quatro anos fora da escola, até que conheceu o projeto Virando o Jogo em Fortaleza. Aluna da quinta edição do projeto, a jovem mãe está fazendo curso de salgadeira.

“Me senti muito acolhida e fui gostando cada vez mais das aulas, com os psicólogos, fui saindo do sedentarismo, criando novos hábitos e conhecimentos. Hoje sou salgadeira, amo culinária. O projeto tem me ajudado bastante, tanto psicologicamente, como fisicamente, com os esportes oferecidos saí da obesidade e do sedentarismo, agora sou apaixonada por esporte e sou saudável”, conta Nayane, de 23 anos.

No momento, ela está sem emprego. “É muito difícil, faltam oportunidades!”. Mas, agora reinserida no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), onde estuda as disciplinas dos três anos do ensino médio, quer prestar concurso para a Guarda Municipal de Fortaleza. “Vou me preparar para o próximo concurso, não gostava de estudar e hoje tenho prazer em aprender. Vou estudar e não vou parar até chegar a hora da aprovação.”

Aos 22 anos, ele sonha em montar seu próprio negócio. “Quero ter um restaurante ou algo relacionado a gastronomia”. Atualmente ele estuda por conta própria em casa para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Meus planos atuais são trabalhar em uma cozinha e adquirir conhecimento, mais na frente fazer uma faculdade e em alguns anos abrir meu negócio.”

Mateus Santos da Silva foi aluno da primeira edição. Fez curso de assistente administrativo e, durante a edição, foi reinserido no EJA semipresencial e aprovado na seleção de jovem aprendiz no Banco do Nordeste. Mas, antes do projeto, não era assim.

Mateus Santos foi efetivado no banco depois de um ano e meio como jovem aprendiz – Arquivo pessoal/Divulgação

“Eu não trabalhava, eu não estudava e ficava só em casa, abandonei os estudos porque arranjei um trabalho, depois fiquei sem os estudos e sem o trabalho”. Mas o projeto transformou a vida dele. “Consegui ingressar no Ceja para concluir os estudos, tive direito a vários cursos e à ajuda de custo, que dava para ajudar em casa. Foi uma experiência muito boa, os professores são ótimos!”

Mateus foi efetivado no banco depois de um ano e meio como jovem aprendiz e ainda cursa duas faculdades ao mesmo tempo. “Estou no segundo semestre da faculdade de administração e de processos gerenciais também.”

Aos 22 anos, ele também quer fazer concurso público. “Meu sonho é terminar as duas faculdades, conseguir um bom emprego e ainda pretendo passar em concurso público e vou passar!”.

Nayane e Carlos estão no projeto Virando o Jogo, que em Fortaleza e em Sobral chegou a 5.180 jovens cearenses que não estudam e nem trabalham, ou, como o jovem Mateus, não estudavam e não trabalhavam e tiveram a vida transformada. A iniciativa do governo do estado do Ceará envolve órgãos das áreas de educação, da segurança pública, a Fundação de Amparo à Pesquisa, além do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

A história desses e de outros jovens foi registrada no livro-reportagem Aqui Contém Sonhos: Narrativas em torno do Projeto Virando o Jogo.   

O projeto possibilita acesso gratuito a cursos profissionalizantes certificados pelo Senac e, paralelamente, promove ações de reinserção escolar junto a quem interrompeu os estudos e tem interesse em voltar a estudar, reconduzindo cada jovem participante evadido ao ensino regular.

Quem avançou em todas as “casas” do projeto Virando o Jogo sai com certificado técnico-profissional assinado pelo Senac, perspectiva de encaminhamento para estágios ou empregos, pequenos negócios iniciados ou em planejamento e um currículo mais encorpado, o que resulta em chances mais sólidas para ingressar no mercado de trabalho.

Com recursos do Programa de Prevenção e Redução à Violência do Estado do Ceará (PReVio), o governo do estado afirma que em 2023 o projeto vai chegar a três municípios cearenses: Caucaia, Maracanaú e Maranguape. Em 2024, serão ainda acrescidos Itapipoca, Quixadá, Iguatu, Crato e Juazeiro do Norte. Com isso, a estimativa é atingir a marca de 20 mil adolescentes e jovens atendidos em todo o estado.

Avaliação

A iniciativa do projeto Virando o Jogo levou a um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza (Unifor)  a analisá-lo, assim como a situação do jovem que está fora da escola e do trabalho. Na visão do pesquisador Gustavo Raposo, primeiro é preciso pensar o sentido do termo nem-nem.

“Nem estuda, nem trabalha, essa ideia é de que esse jovem está numa situação muito vulnerável, porque ele deveria estar estudando e não está. Ao não estudar prejudica o futuro profissional dele, o futuro da renda e também não estar trabalhando faz com que ele fique ainda mais vulnerável, exposto ao recrutamento para atividades ilícitas e isso acaba se transformando num duplo efeito de risco. E tem um contingente muito grande de jovens que estão nessa situação”, lamenta o pesquisador, que trabalha com direitos humanos e pesquisa empírica.

O pesquisador explica que é preciso analisar o que faz esse jovem estar fora da escola. “Tem muitas questões relacionadas à violência urbana, deslocamento, efeito do controle das organizações criminosas sobre os territórios, uma infinidade de possibilidades e aspectos que podem ser tratados pra pensar por que esse jovem não está dentro da escola.”

O ambiente escolar também influencia para este abandono. “Outro aspecto importante diz respeito à própria escola: por que não consegue manter esse jovem dentro da escola? Será que a escola é ruim, será que tem violência dentro dessa escola, será que ela não está oferecendo uma formação adequada para esse jovem, que faça com que ele se sinta estimulado e atraído para ficar dentro da escola? A dinâmica também relacionada à escola que tem que ser observada.”

Quanto à dimensão profissional, o pesquisador frisa que o jovem pode ocasionalmente trabalhar, embora precariamente. “Ele está fazendo bicos, se movimentando, às vezes transitando entre atividades lícitas, como entrega, e ilícitas, fazendo pequenos trabalhos associados ao mundo crime, tem uma situação que esse jovem que a gente diz que não trabalha, na verdade ele está se virando de todo jeito para sobreviver, mesmo que não tenha uma atividade fixa permanente.”

Para Raposo, é preciso refletir que esse jovem é supervulnerável em todos os aspectos. “Essa situação destrói boa parte das perspectivas de futuro que ele tem e cria uma situação de vulnerabilidade que pode gerar riscos associados, inclusive à segurança e a atividades criminosas.” O pesquisador defende que esse jovem precisa ser cuidado.

“Precisa ser protegido, precisa haver investimentos, programas, que tragam esse jovem de volta para escola e, ao mesmo tempo, trabalhe a inserção ou a reinserção profissional dele. O nem-nem tem que ser acolhido porque ele é um jovem que tem potencial enorme, eles são criativos, têm projetos, sonhos, ideias inovadoras, mas estão, em grande medida, sem a capacidade de enxergar naquele horizonte que ele vive, ver o que ele pode fazer para sair daquilo.”

Para tanto, os projetos podem mudar a situação, analisa Raposo. “Os projetos mostram opções, caminhos, abrem uma porta, induzem esse movimento inercial que acaba fazendo com ele seja tragado por essa situação de vulnerabilidade em que vive.”

O pesquisador alerta, no entanto, para a visão negativa que há desses jovens. “É preciso muito cuidado com a ideia do jovem problema. Tem muita gente que fala: 'Vamos investir para que eles não virem 'ladrões'. Cuidado com essa abordagem. A abordagem do acolhimento, do apoio, da compreensão dos problemas que vivem, da oportunidade e da potencialidade que esse jovem tem, se for bem trabalhada, é adequada, é a perspectiva que a gente prefere atuar.”

Ele observa que falta de perspectiva dos jovens também não é um problema só brasileiro. “É é muito presente em outros países, essa falta de oportunidades, de perspectivas, o mercado de trabalho que não consegue absorver esses jovens, especialmente jovens negros, que vêm de grupos minoritários no exterior, principalmente afetando filhos de imigrantes, então não é um problema só brasileiro. Mas no Brasil é um problema de dimensão alarmante.”

Fonte: Agência Brasil

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