Verdades que jamais serão caladas – por Caio Gottlieb
Em um vídeo que viralizou nas redes sociais no final de setembro, o jornalista Fernão Lara Mesquita cutuca e reprende os eleitores que pensam em anular...
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Por Caio Gottlieb
Uma das manifestações mais contundentes que se ouviu nesta campanha eleitoral sobre uma eventual vitória de Lula na disputa presidencial não saiu da boca de Bolsonaro e nem de nenhum de seus aliados.
Em um vídeo que viralizou nas redes sociais no final de setembro, o jornalista Fernão Lara Mesquita cutuca e reprende os eleitores que pensam em anular o voto ou votar em branco e faz críticas duras à atuação da imprensa na cobertura do governo, comportamento que deu respaldo para ações sabotadoras de outros poderes e setores políticos.
É um pouco longo, mas vale a pena ler na íntegra o que ele falou de viva voz na primeira parte da gravação divulgada poucos dias antes da votação do primeiro turno:
“Gente, eu volto de dois dias de folga com não sei quantas bocas caladas mais, um canal de televisão inteiro ameaçado de fechamento e 225 a 225 minutos de propaganda dos candidatos à presidência convertidos em 395 para o Lula e 55 para o Bolsonaro num seis a zero feito só de gols do juiz.
É proibido chamar o Lula de corrupto ou de ladrão, mas é por civilidade ou é por notícia falsa?
Não tem mais argumentos, agora é só força bruta. Censuram até ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.
Eles estão chamando 230 milhões de brasileiros de imbecis e um monte deles, para além da turminha da teta, está gostando disso.
Eu estou fora. Isso é só o começo, gente. Não vão parar por aí. Eles vão ter de ser parados.
Foi Jesus Cristo e não Barrabás que foi censurado, preso e crucificado.
Foi o Tiradentes e não o Joaquim Silvério dos Reis que foi enforcado e esquartejado pela inquisição.
Foram os heróis da resistência e não a Gestapo que foram torturados nos porões.
Foi o Alexander Soljenítsin e não a KGB que foi mandado para morrer na Sibéria.
O meu bisavô assaltava fazendas à noite para soltar escravos das senzalas e conduzi-los para os quilombos.
Depois, ele fundou um jornal abolicionista e republicano em plena São Paulo dos barões do café e do tempo do Império.
O filho dele foi preso 17 vezes e exilado duas pelo Alexandre de Moraes do seu tempo.
E o meu pai liderou a conspiração para o contragolpe de 64 contra essa mesma gente que com mentiras e força bruta quer plantar na marra o império da mentira que não conseguiu nos impor naquela altura.
E eu, junto com meu pai, trabalhei 30 anos em redação para dar fuga, para libertar e para garantir a liberdade de palavras aos meus adversários ideológicos.
Neste momento de país no contrapé, a Gestapinho do nosso Führer tem poder para calar bocas aqui e ali, mas não para convencer.
Para convencer é preciso persuadir, como dizia Unamuno no seu famoso discurso, e para persuadir falta-lhes a razão, o direito e a legitimidade nessa luta.
Eles não passarão. Não conseguirão calar um país inteiro na era da internet.
Ninguém tem mais desculpa, gente. Cada um vai ter que se assumir.
Nazista é quem censura e não quem é censurado.
É com Jesus Cristo, com Tiradentes, com os heróis da resistência e não com Barrabás, com a inquisição e a Gestapo que eu permaneço.
Jornalistas, blogueiros, políticos e cidadãos que foram perseguidos, penduram a perseguições dos capa-pretas, do nosso ditadorzinho bandalho como medalhas de honra ao mérito no seu peito.
Elas vão ser as provas eternas de que vocês estiveram do lado certo neste momento errado da história do Brasil.
É preciso afogar tudo isso numa enxurrada de votos para evitar que vire uma enxurrada de lágrimas ou até de sangue.
Ou então, se acovarde.
Responda à patrulha e não à história.
Traia sua raça, traia o futuro do Brasil, saia à caça dos resistentes, junte-se aos linchadores ou anule o seu voto, em vez de varrer essa gente sinistra que mente na sua cara olhando você nos olhos e durma com isso pelo resto da sua vida.”
Mas é na segunda parte do vídeo, postada integralmente no rodapé desta nota, que o autor é ainda mais incisivo.
“Quem foi que dissolveu o Congresso sistematicamente para afogar o poder eleito e plantar no lugar dele esse STF, sem voto nem lei para isso, que se comporta à inquisição do século 16?”, questiona Lara Mesquita logo no início de seu comentário.
O jornalista prossegue argumentando que foi o governo do PT que “financiou todas as ditaduras latino-americanas que foram arrancadas do túmulo pelas bruxarias do (marqueteiro) João Santana, com dinheiro roubado do Brasil”.
O veterano jornalista destaca o que o Brasil pode esperar sobre o estilo do governo, em caso de vitória dos petistas.
“O Lula, faltando uma semana para eleição, nem se tocou de publicar o plano de governo. Porque não precisa. É o mesmo de sempre. Eles já tentaram três vezes antes de passar o mesmo golpe e foram impedidos na última hora”, afirmou, explicando que o Congresso seria mantido, mas tudo passaria pelo presidente e decidido por meio de ‘novos mecanismos deliberativos’.
“Votar no PT ou anular o voto”, para o jornalista, significa confirmar “o cancelamento do Poder Judiciário brasileiro pelas mãos do Dr. Fachin, o advogado do MST que Dilma Rousseff enfiou no Supremo para anular a sentença de nove juízes de três instâncias do Judiciário, tirar o Lula na cadeia e metê-lo na porta da Presidência.”
“Se o Brasil não devolver o Lula para onde ele merece, eu não sei quantas décadas nós vamos levar para nos curar disso.
Se você votar no Lula, ou anular o voto — o que é a mesma coisa —, você estará dizendo: ‘É isso aí! Rouba mesmo! Prende mesmo! Arrebenta mesmo!’
O Brasil nunca esteve tão perto do abismo. Pense nisso muito seriamente antes de apertar aqueles botõezinhos da urna.”
Para quem não sabe, Fernão Lara Mesquita, como o sobrenome por si só já revela, é bisneto e neto dos fundadores do secular O Estado de S. Paulo, o Estadão, que, se não chega a fazer oposição sistemática a Bolsonaro como outros veículos da grande mídia, também está longe de estar alinhado ao presidente.
Não poderia, portanto, haver abordagem mais isenta, imparcial e insuspeita, descrita com clareza cristalina, a respeito do momento em que vivemos.
Tendo ocupado todas as funções de uma redação desde 1972, foi diretor de redação do Jornal da Tarde e diretor de opinião do Estadão até 2003, e membro do Conselho de Administração do Grupo Estado até agosto de 2020.
A partir de então, com o tradicional jornal ocupado por adeptos de ideologias antagônicas à sua fé democrática, passou a ter seus textos censurados e demitiu-se do conselho de administração.
Enfim, é mais um que, do mesmo modo como venho fazendo insistentemente nos posts deste blog, está alertando com todas as letras: depois não digam que eu não avisei.
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