A dor ensina – por Caio Gottlieb

Não ficou só nos discursos, inflamados pelo calor do momento, a ideia de que é preciso promover urgentemente mudanças drásticas para evitar a repetição futura da devastadora crise econômica provocada pela Covid-19.

Diversos países já começaram a adotar medidas concretas para reduzir a dependência dos produtos da China, o maior fornecedor global de quase tudo, que viu-se obrigada, ao irromper a pandemia, a fechar grande parte de suas fábricas para tentar conter a disseminação da doença, interrompendo a entrega de mercadorias vitais pelo mundo afora.

Longe de ser uma represália ao gigante asiático pela “exportação” do novo coronavírus, as ações resultam da elementar constatação de que, por uma questão de sobrevivência, é fundamental internalizar a produção de insumos essenciais e se preparar para novos riscos de colapso nas cadeias internacionais de suprimentos.

O Japão, por exemplo, lançou um programa de 2 bilhões de dólares para ajudar as empresas a deixar a China e levar sua base de produção de volta para o país.

A União Europeia decidiu acelerar o plano de desenvolvimento de novos insumos da área de saúde e tecnologias de automação industrial, que permitem a redução de custos e os ganhos de produtividade.

Há inúmeros movimentos similares pipocando ao redor do planeta.

É bom frisar que a ideia não é simplesmente abrir mão dos produtos chineses e de seus custos imbatíveis, mas diversificar a produção local, investindo principalmente nos insumos que são mais importantes para cada país.

O “novo normal”, seguramente, vai ter muito menos “made in China” por aí.

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