
Organização do acervo de Abdias Nascimento está disponível ao público
O nome Andorinha foi uma escolha da equipe por simbolizar a força do coletivo. O fato de as andorinhas voarem juntas, de forma sincronizada e por longas distâncias,......
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Por CGN

O nome Andorinha foi uma escolha da equipe por simbolizar a força do coletivo. O fato de as andorinhas voarem juntas, de forma sincronizada e por longas distâncias, lutando contra grandes desafios, reflete o trabalho, em rede, do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), fundado por Abdias Nascimento nos anos 1980, ao manter viva a memória dele.
“Ao longo de sete episódios, reunimos as vozes de pesquisadores, artistas e técnicos, destacando os desafios e as conquistas envolvidas na gestão desse valioso patrimônio”, disse o Ipeafro.
Quem assistir a websérie Andorinha poderá ver os bastidores da organização do acervo Abdias Nascimento no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), reconhecido internacionalmente e inscrito no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Composto por documentos, obras de arte, livros e registros de toda uma trajetória negra ao longo do século 20, o trabalho passa também pelas organizações criadas pelo artista e ativista, como o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu de Arte Negra e o Ipeafro. Como parlamentar, Abdias Nascimento foi autor das primeiras propostas ao governo federal para políticas públicas de combate ao racismo, em 1983.
Na websérie, depoimentos exclusivos detalham o trabalho de conservação desse patrimônio histórico e cultural que o Ipeafro abriga, incluindo o acervo documental, de aproximadamente 3.500 livros na coleção bibliográfica, 600 obras artísticas e 20 mil imagens no acervo iconográfico.
Ipeafro lança websérie Andorinha sobre o legado do poeta e dramaturgo Abdias Nascimento – Foto Acervo do Ipeafro/Divulgação
Além da produção do Ipeafro, a websérie tem o apoio do Instituto Ibirapitanga. O projeto está inserido na nova fase do sistema de gestão e difusão do legado de Abdias Nascimento.
“A iniciativa reafirma o compromisso do Ipeafro com a valorização e difusão da cultura afro-brasileira, celebrando a vida e a obra de seu fundador”, informou o Ipeafro.
A intenção da websérie é documentar os processos técnicos e momentos de destaque do Ipeafro, entre eles o retorno e a acomodação das obras da coleção Museu de Arte Negra, que compuseram a mostra no Museu Inhotim, em Minas Gerais. A exposição integrou, em quatro atos, o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, em uma parceria entre o Inhotim e o Ipeafro no período de 2021 a 2024.
A websérie traz ainda a atuação do grupo de trabalho que institui o Programa Abdias Nascimento: Memória, Patrimônio e Reparação. A iniciativa conjunta do Ipeafro e da Fundação Casa de Rui Barbosa conecta representantes de instituições públicas e da sociedade civil, que possuem acervos relacionados à cultura e à memória afrodescendente, dos povos originários e comunidades periféricas.
Outro aspecto da websérie é que ela dá continuidade à produção, pelo Ipeafro e parceiros, do registro audiovisual de memória negra dos documentários: Abdias Nascimento Memória Negra (2008), de Antonio Olavo; Abdias Nascimento (2013), de Aída Marques; Abdias Vive (2011), de Fernando Bola; 70 anos do Teatro Experimental do Negro (2014), Ipeafro/ Cultne; e Entre o Aiyê e o Orum – Abdias Nascimento (2021).
Casada com Abdias na volta dos dois ao Brasil, depois do exílio, a cofundadora e atual presidente do Ipeafro, Elisa Larkin Nascimento, revelou que no retorno ao país, Abdias veio com o compromisso de fortalecer a democracia brasileira e participar da fundação do PDT, com Leonel Brizola, que, depois do partido criado, foi eleito governador do Rio de Janeiro pela nova legenda. Nessa época, o casal chegou com muitos elementos que hoje fazem parte do acervo do Ipeafro.
A diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Elisa Larkin Nascimento – Foto Tomaz Silva/Agência Brasil
“Trouxemos muitos livros que ele havia colecionado, obras de arte que reuniu no exterior e ainda a produção pictórica, a pintura dele que, em sua grande maioria, foi produzida fora do Brasil. Ele começou em 68 a pintar, na época em que realizou a Exposição inaugural do Museu de Arte Negra, projeto que começou nos anos 50”, informou em entrevista à Agência Brasil, acrescentando que Abdias estava exilado em Nova York quando no Brasil foi promulgado o AI-5, impedindo-o de voltar ao país, mas não de continuar a interlocução do exterior com artistas brasileiros.
“A Igreja Católica do mundo inteiro, reunida no Rio de Janeiro, e o pessoal do Teatro Experimental do Negro propõem o concurso sobre o tema do Cristo Negro. Foi um escândalo, em 1955. Foi considerado grande blasfêmia, um atentado contra as artes e a religião. Foi descrito nos jornais como um grande problema, no entanto mais de 120 artistas fizeram a exposição e o concurso. A partir dali, o projeto do Museu de Arte Negra recebeu doações de artistas brasileiros das mais variadas origens e alguns dos mais eminentes como Alfredo Volpi, Ivan Serpa, Aldemir Martins, Augusto Rodrigues, a lista é muito grande”, disse.
A presidente do Ipeafro afirmou que o trabalho da instituição, como o próprio nome de Abdias, é pouco conhecido, mas que acredita que o audiovisual e a comunicação por meio das redes sociais vão permitir maior divulgação.
Para a assistente de comunicação do Ipeafro, jornalista e diretora da websérie, Duda Nascimento, o projeto permite compartilhar as tecnologias de preservação que fazem o instituto resiliente.
“A minha ideia com a direção, a narrativa que eu queria comunicar, tem sido eficiente, dadas as exibições que a gente já fez no Ipeafro para a equipe. É possível identificar o compartilhamento da maneira de fazer o Ipeafro com outras organizações, para que elas possam tanto aprender como compartilhar as técnicas de preservação ou até mesmo de pessoas com acervo pessoal. Isso é um debate importante; como fazer com que a memória de personalidades e de acervos negros sejam permanentes”, observou.
Novas gerações
A doutora em história social da USP, Clícea Maria Miranda, responsável pelo acervo documental e integrante da gestão colegiada do Ipeafro, vê o trabalho também alinhado com uma preocupação constante de Abdias, que era a educação da população negra, capaz de aproximar novas gerações.
“A gente entende que o movimento negro e as ações do movimento negro também educam. Esse acervo reunido aqui também pode ser um lugar de informação e formação. Recebemos um conjunto de estudantes, alunos e alunas de pós-graduação que vêm pesquisar o acervo. Infelizmente o racismo, durante muito tempo, inviabilizou figuras como o Abdias e todo esse legado. A nossa tarefa, e uma das nossas missões, é levar todo esse conhecimento que ele produziu de forma que as novas gerações possam beber nessas fontes para atuar no futuro”.
Como o nome da websérie é Andorinha, Clícea reforçou a necessidade de a luta contra o racismo ser coletiva e, dessa forma, marcar o trabalho desenvolvido pelo Ipeafro.
“É um trabalho coletivo. Todas as áreas aqui têm a perspectiva de se comunicar para que a coisa aconteça, o que se reflete muito no que foi Abdias. A coisa só anda e acontece porque todo mundo trabalha junto e voa junto”, disse, lembrando o ditado popular “uma andorinha só não faz verão”.
A partir de hoje (16), o primeiro episódio de Andorinha ficará disponível no canal do Ipeafro no YouTube, justamente no mês em que o instituto completa 41 anos de criação. Novos episódios vão ao ar nas próximas segundas-feiras. Quem tiver interesse em buscar mais informações pode acessar o endereço: ipeafro.org.br ou então os perfis nas redes sociais @ipeafro no Instagram e no Facebook.
Fonte: Agência Brasil
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