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Golpistas estudaram caso Marielle para evitar erros na trama para matar Lula, Alckmin e Moraes

Os detalhes dos estudos realizados pelos militares sobre o caso da vereadora constam da representação de 221 páginas da Polícia Federal levada ao STF pela abertura...

Publicado em

Por Agência Estado

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O grupo de militares que colocou nas ruas a Operação ‘Copa 2022’ para monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em dezembro de 2022, estudou minuciosamente até o caso Marielle Franco para adotar estratégias que os deixassem de fora do radar da Polícia Federal em caso de uma eventual investigação. Eles tiveram acesso a uma verdadeira apostila sobre os passos adotados por investigadores para desvendar os detalhes do assassinato da vereadora fluminense – e teriam usado os dados para evitar ‘erros’ que os assassinos de Marielle praticaram no crime ocorrido em 2018.

Os detalhes dos estudos realizados pelos militares sobre o caso da vereadora constam da representação de 221 páginas da Polícia Federal levada ao STF pela abertura da Operação Contragolpe, que prendeu na manhã desta terça-feira, 19, quatro militares – um general reformado e três ‘kids pretos’ – e um agente da Polícia Federal por envolvimento com um plano de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do seu vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

A PF encontrou nos arquivos do major Rafael de Oliveira – lotado no Batalhão de Ações e Comando e integrante da Operação ‘Copa 2022’, tramada para prisão/execução de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022 – dois arquivos que teriam sido estudados pelo grupo de elite do Exército.

Os documentos indicam que o “comportamento das atividades e dos militares envolvidos não deve ser analisado de forma convencional”, vez que o evento foi executado com “elevado conhecimento técnico”.

A PF destaca indícios de que a Operação ‘Copa 2022’ foi elaborada “previamente”. O evento clandestino ‘Copa 2022’ foi identificado a partir de diálogos armazenados no Signal (aplicativo de mensagens) de Rafael de Oliveira. O major participava de um grupo que, segundo a PF, “revela uma ousada sequência de ações realizadas por militares, nitidamente realizadas a partir de um planejamento minuciosamente elaborado”.

Os investigadores consideram a operação que os ‘kids pretos’ colocaram nas ruas como um “verdadeiro capítulo no contexto de tentativa de golpe de Estado”, apesar de o plano ter sido abortado no meio do caminho. Como mostrou o Estadão, seis investigados participaram da ação, que contou até com o uso de carros alugados e um veículo do Exército.

Segundo os investigadores, os estudos dos kids pretos dão um “relevo ainda maior” para os principais achados da Operação Contragolpe: o plano ‘Punhal Verde e Amarelo’, que descrevia a possibilidade de matar Lula, Alckmin e Moraes por envenenamento e explosão de bomba; e a planilha de golpe de Estado, que descrevia, em mais de 200 linhas, uma estratégia de ruptura antidemocrática.

A PF dá ênfase à “engenharia fática e circunstancial” identificada na Operação ‘Copa 2022’ e frisa. “Considerando as técnicas empregadas, notadamente aquelas relacionadas ao processo de anonimização de prefixos telefônicos, têm-se indicativos de que pessoas com especialização específica participaram das atividades empregadas.

“Por exemplo, após analisar o documento ‘NA_cyber’ apreendido com Rafael de Oliveira, a PF conseguiu identificar que o grupo estudou o uso de ‘telefones frios’ – aparelhos que são comprados e cadastrados com dados de terceiros, com finalidade de dificultar ou impedir qualquer tipo de identificação dos seus reais usuários.

Os investigadores perceberam que os oficiais que monitoraram Moraes e lançaram a Operação ‘Copa 2022’ tinham “conhecimento acima da média sobre a relação entre IMEI (aparelho telefônico) e SIM CARD (chips das operadoras de telefonia móvel)”.

O documento ainda descreve que a operadora Claro exige biometria para o cadastro de seus chips, dificultando o uso para realizar a anonimização.Para a PF, o arquivo evidencia o conhecimento e o cuidado do grupo ao serem criados telefones frios. Como mostrou o Estadão, os seis militares que participaram da ação contra Moraes em dezembro do ano passado chegaram a usar codinomes em alusão a países que disputaram a Copa do Mundo de futebol, em 2022, para dificultar uma eventual identificação do grupo golpista – ‘Japão’, ‘Brasil’ e ‘Alemanha’, por exemplo, foram adotados pelos militares.

O documento ‘Apostila Anonimização’ relata uma análise circunstancial sobre a investigação do assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes, em 2018.

O arquivo indica que os militares estudaram o homicídio da vereadora para verificar como o crime foi elucidado – e então tentar evitar ‘erros’ cometidos pelos assassinos que levaram a sua identificação.O arquivo mostra que, no caso Marielle, “houve a utilização de antenas de celular para ajudar na elucidação” do crime. E relata que “investigadores forenses irão se munir das mais variadas formas para desvendar a autoria das ações cibernéticas”.

“Um exemplo bastante conhecido da utilização dessas técnicas ocorreu na elucidação no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. Apesar de não se tratar de um crime cibernético propriamente dito, dá para se ter uma ideia aqui de como se deram as investigações para chegar até os assassinos, principalmente porque nas fases anteriores ao crime houve uso de celular e pesquisas na internet que serviram de pista e de provas para a condenação dos assassinos”, registrou o documento no tópico ‘análise circunstancial’.

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