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Imagem referente a Masp inaugura novas exposições sobre artes indígenas
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Masp inaugura novas exposições sobre artes indígenas

As histórias indígenas, a tapeçaria diné/navajo e os saberes tupinambás são os temas das novas exposições que o Museu de Arte de São Paulo (Masp) está inaugurando a partir......

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Por CGN

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Imagem referente a Masp inaugura novas exposições sobre artes indígenas
© Fernando Frazão/Agência Brasil

As histórias indígenas, a tapeçaria diné/navajo e os saberes tupinambás são os temas das novas exposições que o Museu de Arte de São Paulo (Masp) está inaugurando a partir desta sexta-feira (20). As três novas mostras compõem o Ano das Histórias Indígenas, tema que o museu escolheu para apresentar e discutir a diversidade e a complexidade dessas culturas.

A primeira dessas exposições – e a maior delas – é a mostra coletiva Histórias Indígenas, que vai apresentar 285 obras de aproximadamente 170 artistas indígenas e que traça uma perspectiva desde o período anterior à colonização europeia até os dias atuais. Por meio da arte e das culturas visuais, o público poderá conhecer as diferentes perspectivas das histórias indígenas da América do Sul, América do Norte, Oceania e Região Nórdica. A curadoria é de Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, além de diversos curadores internacionais convidados.

“Todas essas artes que serão expostas retratam a realidade dos povos indígenas não só do Brasil, mas de outros países. Elas representam as cosmologias dos povos indígenas, sua história, seus desafios. É uma forma de tentar dar visibilidade a essas realidades tão pouco conhecidas pelas comunidades internacionais e pela sociedade brasileira”, disse Edson Kayapó, curador de artes indígenas no Masp e professor de história indígena no Instituto Federal da Bahia (IFBA).

Por história, a mostra entende tanto os relatos históricos quanto as narrativas pessoais. “São histórias no plural, trazendo a ideia de que há uma diversidade muito grande de memórias, cosmologias, tradições, línguas e de modos próprios de organização social de cada povo. São muitas histórias e muitas formas de produzir arte porque, obviamente, essas diversidades históricas e sociolinguísticas repercutem nas artes. Os artistas indígenas vão produzir artes que dialogam com seus povos”, disse o curador.

Em entrevista à Agência Brasil, Kayapó afirmou que a exposição é também atual e política, pois reflete sobre a preservação do meio ambiente e as mudanças climáticas. “As artes indígenas, especialmente essas que serão exibidas, são posicionadas. Todas as artes produzidas por povos indígenas são posicionadas politicamente e esse posicionamento tem a ver com nossos pertencimentos, nossas identidades étnico-raciais e cosmologias”, disse o curador. “As artes indígenas são também uma expressão política que tem a ver com o tempo e com os desafios que estão postos”, ressaltou.

A mostra foi dividida em oito núcleos, que se iniciam com o tema Ativismo, reunindo trabalhos de diferentes movimentos sociais indígenas, em formatos variados como bandeiras, fotografias, vídeos, pinturas e pôsteres. “Esse núcleo Ativismo é para nós, indígenas, muito significativo porque traz a voz do movimento indígena organizado”, explicou o curador. Nessa exposição, por exemplo, haverá um vídeo com importante discurso de Ailton Krenak na Assembleia Constituinte de 1987, em que ele faz a defesa dos povos originários.

A mostra, feita em colaboração com o Kode Bergen Art Museum, vai ocupar as galerias do primeiro andar e segundo subsolo do museu e ficará em cartaz até 25 de fevereiro.

Obras têxteis

A segunda mostra, que começa hoje no Masp, é uma individual da artista diné/navajo Melissa Cody, a primeira dela individual na América Latina. Serão apresentadas 26 obras têxteis, produzidas por tradicional tear navajo, que mesclam símbolos e padrões tradicionais da tapeçaria desse povo e trazem referências pessoais da artista.

Chamada de Melissa Cody: céus tramados, a exposição ocupa a galeria localizada no primeiro subsolo do museu e tem curadoria de Isabella Rjeille e de Ruba Katrib. “Melissa Cody tem 40 anos de idade e é uma artista navajo/diné, um povo indígena dos Estados Unidos que habita tradicionalmente a região do Arizona [diné é a forma utilizada pelos indígenas para se referirem a esse povo e navajo é a forma utilizada por pessoas não indígenas]. Ela é uma artista que trabalha com tecelagem, técnica tradicional e milenar do povo navajo”, explicou Isabella Rjeille.

Na cosmovisão diné/navajo, a tecelagem é uma tecnologia transmitida às mulheres pela figura sagrada de Na’ashjéii Asdzáá, a Mulher-Aranha. “A Mulher-Aranha é a figura sagrada que desce dos céus, do território sagrado, para o povo diné e ensina as mulheres e homens a tecerem”, disse a curadora.

Herdeira desse conhecimento ancestral, Cody faz parte da quarta geração de artistas de sua família. Em suas obras, mescla símbolos e padrões históricos da tapeçaria navajo, com referências que vão das paisagens de seu território de origem ao universo pop do videogame e da música. “Ela mesma fala que cresceu dentro dos ensinamentos tradicionais de sua cultura navajo e da cultura ocidental”, afirmou Isabella.

O trabalho de Cody também reflete as influências que a tecelagem navajo sofreu ao longo da história, seja pelas trocas culturais ou pelas violentas migrações a que foram submetidos. O uso das cores vibrantes no processo dessa tecelagem, por exemplo, remete ao movimento “Germantown Revival”, que nasceu após o trágico episódio conhecido como a “Longa Caminhada” (1863–1866).

Com o objetivo de expulsar os navajo de seu território, militares queimaram suas casas e destruíram rebanhos, forçando-os a migrar do Arizona ao Novo México, para que fossem aprisionados no campo militar de Bosque Redondo, em Fort Sumner, atual Novo México, e obrigados a assimilar a cultura estadunidense. Durante esse processo de migração forçada, as tecelãs criaram estratégias para continuar trabalhando, desfiando cobertores oferecidos por oficiais e incorporando seus fios – produzidos a partir de uma lã comercial e tingida por anilina – nas tecelagens. “Foi realmente um processo de inviabilizar a vida do povo navajo ali naquela região, fazendo com que fossem expulsos e tivessem que migrar, caminhar a pé, do Arizona até o Novo México, uma longa caminhada que matou grande parte deles. Quem chegou ao campo militar viveu de forma muito precária e sofreu com doenças e desnutrição”.

Apesar disso, houve resistência. “As mulheres são centrais para a manutenção das comunidades. Elas começaram a desfazer mantos dados pelos militares para fazer suas próprias tecelagens e mantos. Elas começaram a incorporar esse tipo de lã comercial, pintada com anilina, muito colorida e vibrante, aos seus trabalhos. Esse momento de absoluto confinamento e tragédia foi de liberdade experimental. Elas conseguiram, a partir dali, manter a comunidade e fazer sobreviver a cultura navajo”, explicou a curadora.

Cody também é conhecida por suas tecelagens de grandes proporções, como a monumental The Three Rivers [Os três rios], produzida durante a pandemia da covid-19 e dividida em quatro partes.

Na exposição será possível ver não somente suas obras, mas os instrumentos que utiliza para a tecelagem. Também há fotos que mostram como esse trabalho é desenvolvido. A mostra fica em cartaz até 21 de janeiro.

Sala de vídeo

Além das duas mostras, o Masp inaugura hoje uma exposição em vídeo, com filme inédito sobre o trabalho da artista Glicéria Tupinambá com o diretor e roteirista Alexandre Mortágua. A curadoria é de Renata Tupinambá.

Glicéria Tupinambá é artista, ativista e educadora indígena da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. Ela vem desenvolvendo um trabalho de resgate e de reconexão com os saberes de sua aldeia. Um dos trabalhos, por exemplo, tem sido o processo de confecção de mantos tupinambás, lembrando o modo de feitura e dos rituais que a indumentária representa.

Em setembro, em entrevista à Agência Brasil, Glicéria explicou que seu trabalho deriva de conexão com um Manto Tupinambá, que foi levado de seus ancestrais há muitos anos e que estava em exibição na França. Esse é um dos mantos tirados dos tupinambás e levados para a Europa e que são considerados pelos indígenas como anciãos ou símbolo de memória e resistência.  Um desses mantos, que se encontra na Dinamarca, está em processo de repatriação e deve voltar ao Brasil no início de 2024.

“Na França, foi a primeira vez que o manto falou comigo. Naquele momento, descobri que o manto era um ancestral, uma entidade e que estava se comunicando. E ele me trazia a mensagem de que os mantos eram portados por mulheres e eram feitos por mulheres. E que eu deveria buscar isso. Então voltei para a aldeia e fui confeccionar esse manto, encontrando pontos e fragmentos que estavam com minhas tias-avós”, disse Glicéria à reportagem na ocasião.

O vídeo que será apresentado no Masp mostra o trabalho feito por Glicéria e que ressignifica a figura do manto. É também um filme sobre resistência do povo tupinambá e uma cultura que podia estar adormecida, mas que emerge e se mostra transformadora.

Em uma de suas cenas mais poéticas, um drone faz uma imagem aérea de Glicéria vestindo o manto e dando voltas em torno de si. “Esse filme é sobre a obra artística da Glicéria, sobre o manto tupinambá que ela confeccionou na Serra do Padeiro. Hoje o povo tupinambá está concentrado em dois estados: Pará e Bahia, com várias comunidades. É um povo que, por muito tempo, foi dito como extinto nos livros de história”, explicou Renata Tupinambá à reportagem.

“Esses mantos antigos, que estão na Europa, são vistos como ancestrais vivos, os que estão sendo feitos atualmente são diferentes. É de muita riqueza e de muita resistência o que a Glicéria produziu. E o vídeo mostra como foi esse processo sendo ela mãe, tupinambá, da Serra do Padeiro. O manto ali representa a Serra do Padeiro e mostra a diferença com outras comunidades também, com outra forma de organização”, contou a curadora.

Outras atividades

Além das exposições, o Masp promove neste sábado (21) um grande seminário internacional que terá a participação de curadores e de artistas que integram Histórias Indígenas. O encontro começa às 10h no auditório do museu e será gratuito e aberto ao público. Haverá transmissão online pelo Youtube do Masp. No domingo (22), haverá oficina com a artista Violeta Quispe, ensinando técnicas de pintura sobre madeira. A atividade precisa de inscrição prévia.

Para entrar no museu, o agendamento online é obrigatório e pode ser feito no link https://masp.org.br/visite#visit-tickets. O Masp tem entrada gratuita às terças-feiras e também nas primeiras quintas-feiras de cada mês.

Mais informações sobre as três mostras podem ser obtidas no site do museu.

Fonte: Agência Brasil

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