Bloco de Notas – por Caio Gottlieb
Seria leviano dizer que as bombásticas cenas, captadas por câmeras internas no terceiro andar do Palácio do Planalto, mostrando o general da reserva Gonçalves Dias, homem...
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Por Caio Gottlieb
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Seria leviano dizer que as bombásticas cenas, captadas por câmeras internas no terceiro andar do Palácio do Planalto, mostrando o general da reserva Gonçalves Dias, homem de confiança de Lula e então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, circulando à vontade entre os invasores que vandalizavam o recinto no fatídico 8 de janeiro, sejam a prova definitiva para confirmar as suspeitas de que a arruaça, se não foi maquiavelicamente tramada, foi, no mínimo, facilitada para jogar a culpa nos apoiadores de Bolsonaro e acusá-lo de tentativa de golpe de estado. Mas a cada dia surgem novos indícios de que as imagens, sobre as quais o governo havia imposto sigilo de cinco anos, agora quebrado pelo STF, têm mais coisas a dizer. Uma delas é a contradição que está opondo o presidente e seu antigo auxiliar que, pela proximidade de ambos, era considerado “a sombra de Lula”. Ora, veja só: ao saber por um repórter que o petista declarou que não tinha conhecimento dos vídeos, Dias disse simplesmente “Estou surpreso” e voltou a afirmar que ex-chefe sabia e sabe de tudo e que o ministro Alexandre Moraes também teve acesso às gravações desde o princípio. Quem está mentindo?
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Parece que no atual governo não é só a presidência da República que tenta ocultar fatos relevantes. Veio à tona agora que a Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, ao contrário do que costuma fazer com outras investigações importantes, escondeu a operação desencadeada há mais de um mês sobre a ligação entre o Primeiro Comando da Capital, a maior facção criminosa do país, e o misterioso Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018. Divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, a informação relata que os agentes cumpriram no dia 14 de março seis mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte e Juiz de Fora. Os procedimentos giram em torno de um inquérito aberto pela PF para apurar o pagamento de 350 mil reais realizado pelo PCC a uma empresa do advogado Fernando Magalhães que, ao lado do colega Zanone Oliveira Junior, atuou na defesa do autor da tentativa de assassinato do então candidato a presidente. Eles deixaram a causa no final de 2019 e sustentam ter recebido 5 mil reais de um patrocinador, cujo nome nunca revelaram. Tudo muito intrigante.
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Com sinais de que seguirá avançando impiedosamente, a inflação anual da Argentina alcançou em março a catastrófica marca de 104,3%. É o maior nível em 31 anos no país que já foi o mais rico da América Latina e hoje, como resultado de desastrosas decisões políticas populistas adotadas por um ideário esquerdista que só distribuiu fome, pobreza e desesperança ao redor mundo, afunda em uma crise econômica sem fim que já atirou metade da população na miséria absoluta. A boa notícia é que o presidente Alberto Fernández, esmagado por um índice de impopularidade que ultrapassa 70%, o que dá a exata dimensão do seu desgoverno, acaba de anunciar que não irá concorrer à reeleição, rendendo-se às evidências de sua inviabilidade política, assim como também deverá estar fora da disputa a sua vice Cristina Kirchner, condenada no final de 2022 a seis anos de prisão por corrupção e responsável em grande medida pela derrocada da nação nos períodos em que comandou a Casa Rosada. Eis aí uma oportunidade de ouro para os hermanos se livrarem de uma vez por todas do câncer do peronismo. A má notícia é que o mandato da dupla ainda vai até outubro. É tempo mais do que suficiente para completarem a destruição.
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Cada qual com suas prioridades e aspirações, movidas pelas demandas e necessidades da época, todos os ex-prefeitos de Cascavel deixaram importantes legados de conquistas e realizações. Pioneiro na comercialização de máquinas agrícolas e automóveis nos primórdios da cidade, através das emblemáticas revendas da Massey-Ferguson e da Volkswagen, tornando-se nos anos seguintes também um dos primeiros produtores rurais da região a abrir fazendas no Mato Grosso, Jacy Scanagatta já era um empreendedor de sucesso quando, em 1976, elegeu-se prefeito de Cascavel, e levou para a gestão pública os predicados que o consagraram como eficiente administrador na iniciativa privada. Dotado de extraordinária visão de futuro, ele vislumbrou como poucos o destino para o qual o município se encaminhava e não hesitou em pensar grande, marcando o seu mandato pela edificação de obras fundamentais para a estruturação urbana da cidade. A lista é impressionante: Aeroporto, Praça do Migrante, Lago, Zoológico, Terminal Rodoviário, Estádio Olímpico, Centro Esportivo Ciro Nardi, Centro Cultural Gilberto Mayer e Praça Parigot de Souza, além da criação de núcleos industriais, construção de escolas, unidades de saúde e pavimentação de boa parte dos bairros. Jacy entra para a história como o prefeito que moldou a metrópole em que Cascavel iria se transformar décadas depois. Descanse em paz.
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Sem uma base de apoio minimamente estável, o Palácio do Planalto está sendo obrigado a mudar de estratégia para não sofrer derrotas retumbantes em votações no parlamento. Em resumo, entrega os anéis para não perder os dedos. Um exemplo é a medida provisória que reestruturou a administração federal no início do ano. Relator da proposta, o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) deve prever em seu parecer o retorno da Conab para o Ministério da Agricultura. Ocorre que, para atender o MST, Lula colocou o órgão sob o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas a decisão desagradou o agronegócio, que vem se articulando para reverter a transferência. Consta agora que integrantes do governo dizem ter se convencido em apoiar o texto de Isnaldo sob o argumento de que é importante se aproximar da bancada ruralista, composta por 300 parlamentares, para garantir a governabilidade. É a dureza da vida real se impondo às vontades e aos caprichos do lulismo.
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Cobrado pelo G7 (fórum que reúne as sete principais entidades representativas do setor produtivo do Estado) a apresentar o cronograma das obras de conservação e manutenção das rodovias federais do Paraná na expectativa do aporte da verba de 439 milhões de reais liberada pela União para execução dos serviços, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) deu uma longa resposta para não dizer nada. Informou, por exemplo, que atualmente é responsável por mais de 3.500 km, dos quais 1.877 km são de rodovias que estavam sob o regime de concessão, e que as manutenções das estradas têm como objetivo atender, “de forma dinâmica”, os problemas identificados em curto espaço de tempo. Sendo assim, assinalou que o cronograma pode sofrer alterações frequentes, em virtude das necessidades rotineiras que se apresentem para a manutenção das rodovias, dentro do Plano Anual de Trabalho e Orçamento. Que, a propósito, é conhecido pela sigla PATO. Podem rir.
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Pelo andar da carruagem, vai ser difícil, diria até impossível, Bolsonaro escapar de ser declarado inelegível quando começarem a ser julgados os vários processos que correm contra ele no Superior Tribunal Eleitoral. Ainda que o ex-presidente consiga demonstrar sua inocência das acusações de ter praticado crime eleitoral ao cometer o pecado de pedir maior transparência nas urnas eletrônicas, o complô está armado para tirá-lo do páreo nos próximos oito anos. Mas o tiro pode sair pela culatra. É quase unânime entre as lideranças do seu grupo político o entendimento de que ele talvez seja mais forte como cabo eleitoral de um nome da direita do que como candidato a um segundo mandato no pleito de 2026. Por sinal, uma pesquisa da Genial/Quaest perguntou aos eleitores de Bolsonaro quem ele deveria apoiar se não puder concorrer. Em primeiro lugar, apareceu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com 21% das preferências, seguido por Michele Bolsonaro, com 15%, e pelo governador de Minas, Romeu Zema, com 10%. Aliás, um bom teste para aferir a sua capacidade de transferir votos serão as eleições municipais do ano que vem, quando ele pretende viajar pelo país para participar da campanha e tentar emplacar um grande número de aliados nas prefeituras das capitais e de cidades de maior porte. Prevê-se disputa acirradíssima por sua presença nos palanques.
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Caso você ainda não saiba, o Supremo Tribunal Federal está prestes a fazer uma nova lambança e aumentar ainda mais insegurança jurídica que faz do Brasil um terreno minado para investimentos. Usurpando novamente o papel dos legisladores, a Corte dá sinais de que poderá alterar a Reforma Trabalhista aprovada pelo Congresso Nacional em 2017 e instituir uma cobrança a todos os empregados para financiar os sindicatos. Advogados tributaristas começaram a alertar para essa possibilidade depois que Gilmar Mendes, na semana passada, mudou seu voto em relação ao tema. Antes, o ministro era contrário à tese de que a cobrança deveria ser feita de todos os trabalhadores, incluindo os não sindicalizados. Agora, passou a ser favorável. O julgamento foi interrompido após o pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. O placar está em 3 votos a zero apoiando o posicionamento que defende que a chamada “contribuição assistencial” seja compulsória. Ou seja, ultrapassando mais uma vez os limites de suas prerrogativas constitucionais, o STF ensaia restabelecer o abominável imposto sindical, extinto pela nova legislação. O país continua fazendo jus à célebre frase do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan: no Brasil, até o passado é imprevisível.
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Tem valido muito a pena para os veículos da grande imprensa a cobertura sectária que fizeram das eleições presidenciais, atuando sem disfarces para impedir a reeleição de Bolsonaro e evitar mais quatro anos tratados a pão e água na distribuição das verbas de propaganda da União. Nos primeiros quatro meses do ano, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva gastou R$ 330 milhões em publicidade, valor referente aos gastos em campanhas com a Presidência da República e sete ministérios. Em igual período, em 2019, o governo de Jair Bolsonaro desembolsou R$ 25,4 milhões. É matemático: Lula gastou 13 vezes mais que a gestão do antecessor. É o preço do esforço que eles fazem para dar pouco ou nenhum espaço para as alucinações e os desvarios do petista e sua tropa de aloprados.
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Importante destacar, por uma questão de justiça, que o único que ainda demonstra alguma independência é o jornal O Estado de S. Paulo, que tem produzido editoriais devastadores para expor os danos que o governo eleito pelas urnas eletrônicas vem cometendo contra o país. No mais recente deles, o tradicional diário paulista observa que os brasileiros que deram a vitória apertada a Lula nas eleições, “mesmo conhecendo bem o passado de malfeitos dos governos petistas, foram descartados cedo demais — e sem o menor constrangimento, haja vista o discurso arrogante e as atitudes do presidente.” O jornal alerta que Lula tem conduzido o Brasil por um “caminho perigoso”, apontando que “o governo tem tomado um rumo que, se não chega a configurar estelionato eleitoral – pois só o mais lhano dos cidadãos haveria de acreditar que Lula, de volta ao poder, faria algo muito diferente do que está fazendo –, tampouco sinaliza que, se não os esqueceu, ao menos Lula teria aprendido alguma coisa com os erros cometidos em um passado não muito distante.” Em outro trecho, o Estadão ressalta que a realidade “implacável” está diante dos olhos de qualquer brasileiro “que não se deixa enviesar pela vaidade ou pelo fervor ideológico. É o Brasil do retrocesso em mais áreas do que Lula, alguns de seus ministros e apoiadores teriam coragem de admitir em público.” Mais para o final, o texto afirma: “O que se viu até agora, no entanto, é igualmente uma política de destruição de marcos republicanos, tais como a lei das estatais, o marco legal do saneamento, a reforma do ensino médio, entre outros. É o voluntarismo megalomaníaco e o improviso de Lula pautando as relações internacionais do país. É o fisiologismo desbragado na relação entre Executivo e Legislativo. É a tolerância à invasão de terras pelos companheiros do MST.”
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Já que admite a barafunda em que nos encontramos, espera-se que o Estadão em seus próximos editoriais tenha a dignidade de se desculpar por ter induzido muitos de seus leitores ao erro de ajudar a colocar o Brasil novamente nas mãos da quadrilha que durante 16 anos protagonizou incontáveis escândalos de assalto aos cofres públicos da nação. É o mínimo a fazer.
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