‘USA for Africa’ fez a maior união do pop

Inspirados por uma ideia do ator Harry Belafonte, Michael Jackson e Lionel Richie lideraram a maior mobilização da história do pop, compondo uma canção e convidando...

Publicado em

Por Agência Estado

Era o ano em que a fome tinha rosto e cor. Segundo a ONU, um milhão de etíopes morriam desnutridos no país vitimado por cheias na agricultura e uma longa guerra civil, esquecido no chamado “chifre da África”. As imagens chegavam ao mundo em coberturas desnorteantes, com bebês definhando diante de câmeras e moscas e mães sem forças para alimentá-los. Era 1985, três anos depois de Michael Jackson se tornar o homem mais rico do pop com o sucesso de Thriller, dois após Lionel Richie atingir o topo com Hello, um depois de Stevie Wonder ganhar um Oscar de melhor canção por I Just Called to Say I Love You e de Cindy Lauper vender dois milhões de cópias de Girls Just Want to Have Fun.

Inspirados por uma ideia do ator Harry Belafonte, Michael Jackson e Lionel Richie lideraram a maior mobilização da história do pop, compondo uma canção e convidando para gravá-la em estúdio 45 dos mais vitoriosos artistas norte-americanos. Há 35 anos, completados hoje, Michael, Lionel e mais Stevie Wonder, Paul Simon, Kenny Rogers, Tina Turner, Billy Joel, Diana Ross, Dionne Warwick, Willie Nelson, Al Jarreau, Bruce Springsteen, Cyndi Lauper, Kim Carnes, Bob Dylan, Ray Charles e outros semideuses estavam lado a lado, diante de um microfone, em uma reunião de poder não vista antes nem depois.

Enquanto conseguiam a confirmação dos artistas, Michael foi assumindo a criação. We Are The World deveria ser criada em conjunto por ele, Richie e Stevie Wonder, mas a história seria outra. O tempo curto deixaria Wonder de fora da composição, fazendo com que a missão ficasse para Michael e Richie. Foram os dois para a casa dos Jackson em Encino, na Califórnia, e lá ficaram por uma semana buscando algo que fosse direto e comovente, fácil e marcante.

Richie havia encontrado duas melodias diferentes e as mostrou para Michael, mas foi em uma noite em que o astro estava sozinho que tudo aconteceu. Em um lampejo que levaria algumas horas da madrugada, segundo contou, Michael Jackson pensou em tudo. Versos, melodia, harmonia, arranjos e linhas de percussão, piano, cordas e refrão. De Richie, teriam sido preservados alguns versos. No dia seguinte, Michael mostrou ao parceiro e o viu ficar impressionado com sua rapidez.

Nem tudo foi tranquilo no dia da gravação, com momentos repetidos muitas vezes até que ficasse perfeito aos olhos do diretor Quincy Jones, para a impaciência de Michael. Entre o cantor Huey Lewis e a cantora Kim Carnes, a pequena Cindy Lauper, então com 32 anos, precisava pegar a melodia passada por Lewis e entregá-la a Carnes para logo depois fazer um fecho a três vozes. Um instante breve, mas que deveria ser marcante, usando toda a potência de seu drive e o brilho de seus agudos, e tudo acompanhado bem de perto por Michael Jackson.

Foram muitas tentativas até que Michael, que cantava a parte anterior ao trio, desistiu de esperar Cindy acertar e se retirou para o fundo do estúdio. O clima pesou. Um produtor avisou que os colares da cantora estavam vazando na gravação e ela, desconcertada, os retirou, conforme mostra um vídeo no YouTube. Lionel Richie, delicado, se aproximou e disse baixinho o que deveriam fazer. Ao voltarem para mais um take, a parte saiu com força precisa e afinada, fazendo todos no estúdio aplaudirem.

A iniciativa renderia ao todo 100 milhões de dólares, que seriam enviados aos governos de países africanos em situação de miséria. Ainda hoje, não se sabe o quanto desse dinheiro sobreviveu à corrupção dos governos e chegou ao seu destino.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Google News

Whatsapp CGN 3015-0366 - Canal direto com nossa redação

Envie sua solicitação que uma equipe nossa irá atender você.


Participe do nosso grupo no Whatsapp

ou

Participe do nosso canal no Telegram

Veja Mais
Sair da versão mobile