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História com afeto

Nascido em Bangu, no Rio, no dia 26 de fevereiro de 1920, filho de pais muito pobres, ele passou a infância em Natal, com os tios...

Publicado em

Por Agência Estado

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José Mauro de Vasconcelos fez de tudo um pouco em seus 64 anos de vida. Estudou medicina, mas abandonou o curso. Foi treinador de boxe, carregador de banana, pescador, professor primário, garçom, ator, viajante, artista plástico. E escritor best-seller.

Nascido em Bangu, no Rio, no dia 26 de fevereiro de 1920, filho de pais muito pobres, ele passou a infância em Natal, com os tios – de onde saiu a bordo de um navio cargueiro para recomeçar a vida no Rio.

Essa errância misturada com seu espírito aventureiro e o desejo de conhecer o outro serviram de matéria-prima para a vasta obra que ele escreveu, e que traz, ainda, registros das marcas que a vida lhe deixou. Isso, sobretudo na ‘trilogia Zezé’ iniciada por Doidão (1963), seguida pelo clássico O Meu Pé de Laranja Lima (1968) e encerrada com Vamos Aquecer o Sol (1974).

Best-seller de José Mauro de Vasconcelos, com mais de 2 milhões de cópias vendidas, O Meu Pé de Laranja Lima ganhou nova edição, com projeto gráfico reformulado e novos textos de apoio, em 2017, nos 50 anos de sua escrita.

Doidão, que apesar de ter saído antes é uma espécie de continuação da história do Zezé, e Vamos Aquecer o Sol, saíram em 2019, como outros títulos. No ano do centenário de Vasconcelos (1920-1984), a Melhoramentos deve completar a coleção do autor, com seus 22 títulos repaginados.

Além dessas novas edições, que trazem apresentações de Luiz Antonio Aguiar, no caso dos infantojuvenis, e de João Luís Ceccantini, no dos adultos, os leitores que se sensibilizaram com o drama do “meninozinho que um dia descobriu a dor”, como Vasconcelos escreve no subtítulo de seu clássico juvenil, vão encontrar nas livrarias O Meu Pé de Laranja Lima em Quadrinhos.

A adaptação foi feita por Aguiar, que é escritor, e pelo ilustrador Franco Rosa e o lançamento está previsto para março.

Acostumado a fazer adaptações como essa (já fez de Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar, entre outros), Luiz Antonio Aguiar conta que este foi um longo e desafiador trabalho – extrair do original o que era essencial, dar ambientação ao que o personagem vivia, atualizar o texto. Ele acredita que a HQ será bem-recebida pelos novos leitores, como o próprio livro ainda é. Afinal, a história segue atual. “Dizer que uma criança apanha não é algo datado. Crianças apanham, levam surras brutais dentro de casa. E Zezé se salva, consegue sobreviver graças à imaginação. Isso não é perecível”, diz Aguiar.

Para os demais livros juvenis, Aguiar escreveu, além de pequenos ensaios sobre as obras, notas para ajudar os leitores a se situarem nas várias referências a artistas, filmes, música, etc. E também para contextualizar a época ou atualizar o texto.

Para Aguiar, a obra de José Mauro de Vasconcelos fala diretamente à emoção do leitor. “Em seus livros, ele não está se preocupando com questões formais ou de linguagem. Ele constrói personagens que passam por momentos de aflição, de dor, como o Zé Orocó, de Rosinha Minha Canoa, que é internado no hospício.”

Professor, pesquisador e escritor, José Luís Ceccantini também destaca a capacidade do autor de criar personagens que ficam na memória. Ele completa: “o autor cria um mosaico de personagem e espaços que ele focaliza: tem garimpeiro, marinheiro, trabalhador das salinas, indígenas, prostitutas. É um universo social muito rico. Ele joga todas as suas fichas no romance social, apresenta um panorama do País muito interessante. E faz tudo com muita afetividade e mostrando a contradição dessas pessoas e o embate entre a civilização e a natureza”.

Ceccantini voltou a ler os romances adultos de Vasconcelos para preparar a apresentação das novas edições e comenta que embora nem todos sejam redondos e perfeitos, vale a pena a leitura. Ele explica que tinha a impressão de que o autor, que levava a literatura muito a sério, havia sido injustiçado pela crítica por ter feito tanto sucesso com O Meu Pé de Laranja Lima, e Aguiar concorda. “Ele foi injustiçado porque não reconheceram a empatia que ele conseguia com o seu leitor”, diz Aguiar.

“Mas ele é um escritor que não fica devendo a vários outros que foram muito mais considerados pela crítica e pela academia. No Brasil, há sempre a cobrança de um discurso crítico. O gueto só pressupõe que é interessante aquele escritor que trabalha com a questão da ruptura no campo da tradição literária e todo o resto não vale muito a pena”, considera Ceccantini.

Para o pesquisador, a maior contribuição do autor foi no campo social: para a formação de leitores. “As pessoas gostam de criticar, mas todo mundo queria ser um escritor de pegada popular como ele teve, de encontrar leitores em um país onde a leitura ainda é uma coisa completamente marginal. Ele achou um modo de se fazer entender e foi querido por esse público leitor.”

Entre os títulos com lançamento ainda neste semestre estão As Confissões do Frei Abóbora (1966), Arara Vermelha (1953), O Menino Invisível (1978) e O Garanhão das Praias (1964).

E como essa obra chega a 2020? “Com polêmica”, responde Ceccantini. “Ele é um homem do seu tempo e paga um preço por isso igual tantos outros”, comenta o organizador, com Marisa Lajolo, de Monteiro Lobato Livro a Livro – Obra Infantil. “Para os dias de hoje, com o politicamente correto e toda essa censura, entre aspas, pairando no ar, algumas representações, expressões e sua própria visão de mundo podem causar problema. Isso tem sido tratado de uma forma tão histérica que você joga na fogueira escritores muito interessantes em nome disso. Espero que não aconteça com José Mauro de Vasconcelos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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