Filósofo que traduziu a ética política e as relações do Estado

Graduado em filosofia em 1973 e doutor na LÉcole des Hautes Études en Scienses Sociales, na França, em 1978, Romano era professor titular aposentado do Instituto...

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Por Agência Estado

Morreu nesta quinta-feira, 22, o filósofo, escritor e professor Roberto Romano, de 75 anos, por complicações decorrentes da covid-19. Segundo o Instituto do Coração (InCor), ligado ao Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), onde ele estava internado, Romano deu entrada no dia 11 de junho. De acordo com a nota do hospital, Romano “evoluiu nas últimas semanas com quadro clínico grave, que culminou em falência de múltiplos órgãos”. Ele era colaborador frequente do Estadão.

Graduado em filosofia em 1973 e doutor na LÉcole des Hautes Études en Scienses Sociales, na França, em 1978, Romano era professor titular aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi autor de livros como Razão de Estado e Outros Estados da Razão, Brasil: Igreja contra Estado e Conservadorismo Romântico: Origem do Totalitarismo, entre tantos outros. Ele era um estudioso da ética e da relação entre religião e política.

Com uma carreira marcada pela vida na religião e grande leitor de Thomas Hobbes e Max Weber, se aprofundou na ética com vastos estudos sobre o trabalho do holandês Baruch Spinoza. Ele foi vencedor do prêmio Jabuti, em 2015, junto a Newton Cunha, e Jacó Guinsburg com a tradução Spinoza Obra Completa – Vols. 1 a 4.

Natural da pequena cidade de Jaguapitã, no norte do Paraná, próximo à divisa com São Paulo, Romano era casado há 50 anos com a socióloga Maria Sylvia de Carvalho Franco. Quando jovem, Romano mudou-se com família para Marília, onde cursou o ginásio e o ensino médio. Nessa época, ingressou na Juventude Estudantil Católica, quando foi, durante 12 anos, frade dominicano. Durante a ditadura militar, em 1969, foi preso e levado, inicialmente, para o Centro de Informações da Marinha (Cenimar). No final de 1970, depois de ouvido pela Auditoria Militar, foi libertado.

Romano era um forte crítico do governo Bolsonaro. “No Brasil a Presidência da República é aconselhada por um gabinete oculto, com várias atribuições. Nenhuma delas integra a lista das mais relevantes missões estatais”, escreveu para Estadão, em maio deste ano.

No dia 13 de maio, como informou o Estadão, Romano foi um dos acadêmicos que subscreveu, junto com juristas, uma ação pública pedindo a interdição do presidente Jair Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Repercussão

A morte de Romano foi sentida pela comunidade acadêmica brasileira. “Nossa universidade lamenta profundamente o falecimento do professor Roberto Romano”, disse o reitor da Unicamp, Antonio José Meirelles. “Sempre se caracterizou pela defesa do ensino público e das nossas instituições de fomento à ciência e tecnologia”, disse.

“Que dia complicado. Lembro de ler os artigos dele durante a graduação para entender sobretudo os conceitos de moral e ética. E ele era mestre da didática”, lamentou Serge Katembera, doutor em sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, no Twitter.

“Lastimo muito a morte do professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, Roberto Romano, de complicações decorrentes da covid”, disse, pelo Twitter, Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital. “Um homem gentil, extremamente inteligente, filósofo e intelectual público do primeiro time.”

O filósofo deixa a mulher, dois enteados, Luiza Moreira e Roberto Moreira, e duas netas.

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