Decano aponta pressões ilegítimas e atuação de delinquentes do ‘submundo digital’

A intimidação mais agressiva vem de caminhoneiros bolsonaristas, que gravaram vídeos ameaçando novas paralisações caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saia da cadeia. As...

Publicado em

Por Agência Estado

O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, criticou nesta quarta-feira, 23, “pressões ilegítimas” sobre o tribunal e “surtos autoritários” que surgem da atuação “sinistra de delinquentes” que vivem no “submundo digital”. Conforme informou na terça-feira o jornal O Estado de S. Paulo, o Supremo tem sofrido pressões para não derrubar a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.

A intimidação mais agressiva vem de caminhoneiros bolsonaristas, que gravaram vídeos ameaçando novas paralisações caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saia da cadeia. As gravações circularam entre integrantes do tribunal ao longo dos últimos dias.

A pressão para impedir uma revisão na jurisprudência também chegou aos gabinetes dos ministros, que não param de receber mensagens e ligações para impedir a revisão da atual jurisprudência.

“O País vive um momento extremamente delicado em sua vida político-institucional, pois de sua trajetória emergem, como espectros ameaçadores, surtos autoritários, inconformismos incompatíveis com os fundamentos legitimadores do Estado de direito e manifestações de grave intolerância que dividem a sociedade civil, agravados pela atuação sinistra de delinquentes que vivem na atmosfera sombria do submundo digital, em perseguição a um estranho e perigoso projeto de poder”, disse Celso de Mello na sessão da tarde desta quarta-feira.

“Parece-me essencial reafirmar aos cidadãos de nosso País que esta Corte Suprema, atenta à sua alta responsabilidade institucional, não transigirá nem renunciará ao desempenho isento e impessoal da jurisdição, fazendo sempre prevalecer os valores fundantes da ordem democrática e prestando incondicional reverência ao primado da Constituição, ao império das leis e à superioridade ético-jurídica das ideias que animam o espírito da República.”

Para impedir nova derrota da Lava Jato no STF, o grupo Vem Pra Rua mobilizou seguidores nas redes sociais para convencer os ministros Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Edson Fachin e Cármen Lúcia – os quatro são favoráveis à execução antecipada de pena – a pedirem vista e, dessa forma, interromper o julgamento. A execução antecipada de pena é considerada um dos pilares da operação.

Na semana passada, o ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas defendeu no Twitter o “grande esforço para combater a corrupção” e alertou para os riscos de “convulsão social”. No ano passado, um tuíte dele na véspera do julgamento de um habeas corpus de Lula foi interpretado como intimidação. Agora, a nova postagem é vista na Corte como um “gesto isolado”.

Missão

O decano do STF se tornou o principal porta-voz do Supremo em defesa da instituição, da democracia e das liberdades individuais. Durante a sessão desta quarta-feira, Celso destacou que a República brasileira foi concebida sob o signo da “liberdade, da solidariedade, do pluralismo político, do convívio harmonioso entre as pessoas, da livre e ampla circulação de ideias e opiniões, do veto ao discurso de ódio, do repúdio a qualquer tratamento preconceituoso e discriminatório”.

“Daí a essencialidade de juízes e tribunais que, conscientes de sua alta missão constitucional e de seu dever de fidelidade ao texto da Lei Fundamental do Estado, ajam, com isenção e serenidade, como membros de um Poder livre de injunções marginais e imune a pressões ilegítimas, para que a magistratura possa cumprir, como já vem cumprindo, com incondicional respeito ao interesse público e com absoluta independência moral, os elevados objetivos inscritos na Carta Política, consistentes em servir, com reverência e integridade, ao que proclamam e determinam a Constituição e as leis da República”, frisou Celso de Mello.

O ministro aproveitou a fala para parabenizar o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que completa hoje dez anos no tribunal.

“O exercício da Magistratura nesta Corte Suprema, sempre tão impregnado de altíssima responsabilidade, e o desempenho das elevadíssimas atribuições como Presidente do Supremo Tribunal Federal permitem reconhecer na pessoa de Vossa Excelência o Juiz preparado para enfrentar os sérios desafios e as adversidades que constituem fatores que, longe de desanimarem o espírito do Magistrado responsável, atestam a sua competência e a sua capacidade como Chefe nominal do Poder Judiciário de nosso País, não obstante os graves problemas nacionais com que o Supremo Tribunal Federal constantemente se depara”, observou Celso.

Google News

Whatsapp CGN 3015-0366 - Canal direto com nossa redação

Envie sua solicitação que uma equipe nossa irá atender você.


Participe do nosso grupo no Whatsapp

ou

Participe do nosso canal no Telegram

Veja Mais
Sair da versão mobile