CGN
Acesse aqui o Discover e busque as mais lidas por mês!
Imagem referente a Celso de Mello vê ‘retrocesso inaceitável’ em projeto das polícias

Celso de Mello vê ‘retrocesso inaceitável’ em projeto das polícias

“A padronização nacional dos organismos policiais estaduais, com expressiva redução do poder e competência dos Estados-membros, se implementada, traduzirá um ato de inaceitável transgressão ao princípio...

Publicado em

Por Agência Estado

Publicidade
Imagem referente a Celso de Mello vê ‘retrocesso inaceitável’ em projeto das polícias

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello disse ontem que os projetos de lei que tiram poder de governadores sobre polícias são um “retrocesso inaceitável”. O ex-decano do Supremo abriu mão do silêncio que marca sua postura desde a aposentadoria, em outubro do ano passado, para criticar a proposta que prevê mandato de dois anos para os comandantes-gerais e delegados-gerais e impõe condições para que eles sejam exonerados antes do fim do prazo.

“A padronização nacional dos organismos policiais estaduais, com expressiva redução do poder e competência dos Estados-membros, se implementada, traduzirá um ato de inaceitável transgressão ao princípio federativo”, disse Celso de Mello à reportagem.

“Não se pode ignorar que a autonomia dos Estados-membros representa, em nosso sistema constitucional, uma das pedras angulares do modelo institucional da Federação”, afirmou o ministro aposentado. “Qualquer proposição legislativa que tenda à centralização em torno da União Federal, com a consequente minimização da autonomia estadual, significará um retrocesso inaceitável em termos de organização federativa.”

Como revelou o Estadão na segunda-feira, o Congresso se prepara para votar dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que sugerem mudanças na estrutura das polícias, como a criação da patente de general, hoje exclusiva das Forças Armadas, para PMs, e de um Conselho Nacional de Polícia Civil ligado à União.

No caso da Polícia Militar, a sugestão é para que a nomeação do comandante saia de uma lista tríplice indicada pelos oficiais. O texto prevê que a destituição, por iniciativa do governador, seja “justificada e por motivo relevante devidamente comprovado”. Na Polícia Civil, o delegado-geral poderá ser escolhido diretamente pelo governador entre aqueles de classe mais alta na carreira. A dispensa “fundamentada”, porém, precisa ser ratificada pela Assembleia Legislativa ou Câmara Distrital, em votação por maioria absoluta dos deputados.

O projeto de lei que pretende remover alguns dos controles que governadores de Estado têm sobre suas forças policiais também invade atribuições da Polícia Federal em relação à fiscalização e regulação de empresas particulares de segurança privada, conforme avaliação de representantes e entidades do Ministério Público e da PF ouvidos pelo Estadão.

O novo modelo é defendido por aliados do Palácio do Planalto no momento em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, endurece o discurso da segurança pública para alavancar sua popularidade na segunda metade do mandato.

A divulgação da medida provocou a reação de gestores estaduais, que já se mobilizam contra a iniciativa. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acusou Bolsonaro de querer “intimidar governadores através de força policial militar”. Instituições de classe, por outro lado, defendem a proposta. Para o presidente da Associação de Delegados de Polícias do Brasil (Adepol), Rodolfo Laterza, é “histeria” associar os projetos ao “golpismo”.

Celso destacou que, em 1831, o então presidente da província de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, sancionou projeto que criou, em São Paulo, o Corpo de Guardas Municipais, núcleo embrionário da atual Polícia Militar estadual. Dificilmente, o fundador da Polícia Militar do Estado de São Paulo chancelaria uma proposta claramente centralizadora e detrimentosa dos poderes e competência das unidades locais, pois foi ele, Tobias de Aguiar, quem, ao lado do Padre Feijó, insurgiu-se, na histórica Revolução Liberal de 1842, contra a concentração de poderes na esfera do governo central imperial”, acrescentou.

Supremo

Também crítico às propostas, o atual decano do STF, Marco Aurélio Mello, afirmou que os projetos pecam pela “falta de razoabilidade e conflitam com a Constituição Federal”. “Contrariam o princípio federativo, mais ainda se houver concentração do poder de acionamento. A Polícia Civil é investigativa e a Militar, repressiva”, disse o magistrado, que se aposentará do tribunal em julho, ao completar 75 anos.

Segundo o Estadão apurou, os ministros do Supremo já discutem reservadamente o tema entre si, ainda que não tenham conhecimento integral dos textos. Um magistrado da Corte, que pediu para não ser identificado, concorda com Celso de Mello, e considera a proposta “ruim” e avalia que a medida, caso seja aprovada no Congresso, pode tornar os governadores “reféns” das polícias.

Uma das preocupações é com o timing em que as discussões estão sendo feitas, pouco depois que extremistas apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio. Na semana passada, Bolsonaro disse que, “se nós não tivermos o voto impresso em 2022, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”. Integrantes do Supremo apontam que a influência de Bolsonaro sobre as polícias é maior que a de Trump sobre a força policial nos Estados Unidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Google News CGN Newsletter

Whatsapp CGN 3015-0366 - Canal direto com nossa redação

Envie sua solicitação que uma equipe nossa irá atender você.


Participe do nosso grupo no Whatsapp

ou

Participe do nosso canal no Telegram

Veja Mais