Emoção e verdade

O repórter pede-lhe que avise. Já pensaram – ir ao bar (em Paris!) em que Fanny se apresenta ao vivo? Mas cuidado – não atirem na...

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Por Agência Estado

Qual tem sido a distração de Fanny Ardant nestes tempos de isolamento da covid-19? “Na verdade, acabo de rodar um filme. A produção seguiu todos os protocolos de segurança, mas a diretora não queria ninguém de máscara diante das câmeras. Atores, figurantes, todo mundo fazendo a higiene das mãos, testando a temperatura. Em casa, toco piano. Tem sido meu companheiro.” E o que ela toca – algum recital à vista? “Nãããooo”, e Fanny solta sua gargalhada. “Talvez eu algum dia ainda toque num bar, enquanto as pessoas conversam.”

O repórter pede-lhe que avise. Já pensaram – ir ao bar (em Paris!) em que Fanny se apresenta ao vivo? Mas cuidado – não atirem na pianista, o que evoca um dos primeiros longas, Tirez Sur le Pianiste (Atirem no Pianista), de François Truffaut, com quem ela foi casada, fez dois filmes e teve uma filha. De novo ela ri. “Surtout ne tirez pas”, principalmente não atirem. Fanny Ardant conversa com o Estadão por conta de sua participação no Festival Varilux do Cinema Francês, que começou na quinta, 19. O festival realiza-se presencialmente, em salas de todo o Brasil. A relação dos filmes, e dos cinemas, está em variluxcinefrances.com.

Dois filmes diversos – no tom e no estilo. Sob a direção de Maïwenn – pronuncia-se Máiuen -, ela participa da crônica de uma família argelina, DNA. A França ainda lida mal com seu passado colonial. Um filme como o excepcional Os Miseráveis, de Ladj Ly, mostra outro tipo de confinamento social – os de originários das antigas colônias, relegados à periferia. “Questões como as dos emigrantes e refugiados ainda originam conflitos e são mantidas na ordem do dia pela direita, que faz delas sua agenda.” O outro longa é Belle Époque, de Nicolas Bedos, sobre um homem que participa de um experimento e volta emocionalmente a uma semana que foi decisiva de sua vida, décadas atrás. Uma história de amor.

O que a levou a fazer esses dois filmes? “O mesmo que todos os demais. Sou apaixonada pelo amor. Adoro fazer essas mulheres que se entregam ao amor, sem pensar nas consequências.” O melhor exemplo talvez seja A Mulher do Lado, seu primeiro Truffaut. “François dizia que não havia outro tema.” O repórter acrescenta que ele era um romântico que desconfiava do romantismo. Via o amor como oposição entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. “E não é assim mesmo?”, ela pergunta.

De volta a Maïwenn. Atriz e diretora, adquiriu projeção com filmes como Polissia (com dois ‘s’ mesmo) e Meu Rei. Maïwenn é intensa. “Ela é tímida, mas uma diretora não pode se intimidar no seu platô (set). Ela consegue trazer todo mundo para esse universo à flor da pele que é o dela.” Faz diferença ser dirigida por homem ou mulher? “Nunca fui dirigida por um machista, o que talvez fizesse diferença, mas homens e mulheres possuem porções masculina e feminina. E eles precisam trabalhar com as duas no set para que o filme chegue a esse lugar de emoção e verdade que tanto buscamos nos filmes.”

O repórter cita O Coronel Chabert, baseado em Honoré de Balzac, de 1994. O homem dado como morto na guerra e que volta para reclamar sua vida. “Gérard (Depardieu) e eu, direção de Yves Angelo, também é um dos meus preferidos. Esse fantasma que se torna real”, reflete.

Na sua extensa carreira, iniciada em 1976, Fanny Marguerite – seu nome verdadeiro – trabalhou também com Alain Resnais, François Ozon, Costa-Gavras, Ettore Scola e outros grandes. Outras – Margarethe Von Trotta, Agnès Varda. Como se prepara para os papéis? “Gosto de chegar ao set com a cabeça como se fosse uma folha em branco. Entrego-me nas mãos do diretor, ou diretora, para que me molde.” Como Pigmalião? “Exato. Considero-me uma atriz em busca de personagens, não importa se em outra língua, ou outro país. Vivo plenamente minhas personagens, através de suas histórias.”

E o amor – “Minha história com Truffaut foi curta, de 1981 até a morte dele (em 1984), mas foi o homem da minha vida. Venho de uma família tradicional. Minha mãe, minhas avós, minhas tias foram mulheres de um só homem e foram livres no amor delas. Eu fui livre amando outros homens, mas nunca como François.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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