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“Falar é melhor do que esconder”, diz psicólogo em alerta contra casos de suicídio

Segundo Gabriel, o medo de noticiar, comentar ou abrir espaço para o tema pode ser um desafio. “A gente debate muito, na faculdade, se a mídia...

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Por Luiz Haab

Na tarde desta quinta-feira (11), o estúdio da CGN recebeu o psicólogo Gabriel Fontana para falar abertamente, sem tabus e com total respeito sobre suicídio. O tema é difícil, mas urgente, visto que é reconhecido mundialmente como um problema de saúde pública. A CGN considera que é doloroso falar, mas muito mais perigoso silenciar (clique no vídeo e assista aos alertas feitos na entrevista).

Um tabu que custa vidas

Segundo Gabriel, o medo de noticiar, comentar ou abrir espaço para o tema pode ser um desafio. “A gente debate muito, na faculdade, se a mídia deve ou não falar. Como fala? Até onde fala?”, contou o psicólogo. E ele próprio responde: “falar é sempre melhor do que esconder”, principalmente porque o fenômeno tem crescido no Brasil e porque, entre todos os silêncios possíveis, o que envolve o sofrimento humano costuma ser o mais devastador.

É preciso identificar os sinais

Entre os comportamentos que podem indicar risco, Gabriel Fontana destacou algo que parece simples, mas é profundo: o isolamento.

Não se trata apenas de “ficar quieto”. É um retraimento diferente do habitual, uma retirada do convívio que foge do perfil da pessoa. Amigos, familiares e colegas, vendo apenas a superfície, muitas vezes interpretam como “frescura”, “má vontade” ou “preguiça”. Mas aquilo que parece desinteresse é, na verdade, um pedido mudo de socorro.

O psicólogo explicou que esse afastamento costuma vir acompanhado de pensamentos sobre não existir, não nascer, desaparecer da própria vida. “Não começa com o desejo de morrer; começa com o desejo de que a dor pare”, destacou.

É uma fala que ecoa com precisão o entendimento atual da saúde mental: a pessoa não quer acabar com a vida, mas com o sofrimento.

Vergonha: o inimigo invisível

E se a dor já é difícil, a vergonha vem para torná-la ainda mais silenciosa.

“É muito difícil para alguém conseguir dizer aos pais, aos amigos: ‘Eu não estou bem’”, afirmou Gabriel. A pressão por desempenho, a cultura da força, a ilusão de que gente forte não pede ajuda — tudo isso se transforma em um muro que impede o diálogo e protege apenas o sofrimento, mas não protege a vida.

O papel da sociedade

Há quem acredite que a dor psíquica é escolha, falta de força ou capricho. Gabriel rebate essa ideia com a clareza de quem atende diariamente pessoas em sofrimento profundo: ninguém quer estar ali. “É fundamental olharmos para o outro com empatia. Perceber que algo mudou, que algo está errado. Esse é o primeiro passo”, afirmou.

Além do isolamento, ele alerta para comportamentos compulsivos usados como fuga — vícios, excessos, dependência do celular como forma de distração permanente. “Tudo isso pode ser um sinal de que algo muito sério está tentando ser sufocado.”

E quando o risco é imediato? O que fazer?

Há situações em que a intervenção precisa ser urgente. Nesses casos, Gabriel é direto: ligar para o Samu (192). “Naquele momento, a pessoa não está conseguindo raciocinar com clareza. Ela precisa ser protegida”, explicou.

Para situações não emergenciais, mas ainda preocupantes, Cascavel dispõe de uma rede de atendimento psicológico e psiquiátrico na saúde pública, que pode ser procurada por familiares ou pela própria pessoa que sofre.

Terapia e remédio

Durante a conversa, a CGN fez uma reflexão importante: se tratamos o coração, o estômago, a tireoide com medicamentos, por que o cérebro seria diferente?

Gabriel concorda. A psiquiatria, segundo ele, é fundamental nos casos mais urgentes e complexos. Não existe “pílula milagrosa”, mas existe estabilização, clareza, possibilidade de reorganizar a vida.

E junto ao tratamento medicamentoso, vem a psicoterapia — o trabalho de reconstruir autonomia, força interna, sentido e presença. “A psicologia é o espaço onde a dor pode ser simbolizada, entendida e ressignificada”, afirmou.

A dor é única, mas a situação é coletiva

Um dos momentos mais impactantes da entrevista foi quando Gabriel compartilhou parte da própria história: uma crise de ansiedade grave, anos atrás, que o deixou sete dias trancado sem entender o que sentia. Hoje, psicólogo, ele olha para aquela fase com compaixão e perspectiva: a vida continuou.

É uma frase que carrega esperança para quem está vivendo o que parece não ter saída. “Se a pessoa que sofre conseguir atravessar aquele momento, talvez encontre novos significados. A crise passa. Problemas continuarão existindo, mas eles deixam de ser intransponíveis”, ressaltou.

Nenhuma dor precisa ser enfrentada sozinha

Entre todas as ferramentas de prevenção, uma merece destaque: o Centro de Valorização da Vida (CVV). O telefone 188 funciona 24 horas por dia, todos os dias, com voluntários preparados para ouvir sem pressa, sem julgamento, sem perguntas invasivas.

“Às vezes, a presença e a escuta são mais importantes do que qualquer conselho”, lembrou Gabriel.

Falar salva vidas

Cada vez que falamos com cuidado, responsabilidade e empatia, criamos uma ponte entre quem sofre e quem pode ajudar. Se você está sofrendo ou conhece alguém que esteja:

Ligue 188 – Centro de Valorização da Vida (24h, gratuito e sigiloso).
Em emergência, ligue 192 – SAMU.
Busque atendimento psicológico ou psiquiátrico na rede de saúde da sua cidade.
Fale com alguém de confiança — você não precisa enfrentar isso sozinho(a).

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