FMI: dívida pública global deve exceder US$ 100 tri neste ano e alcançar 100% do PIB até 2030

Neste ano, a dívida pública mundial como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), principal métrica que os investidores avaliam antes de aportar recursos em um país,...

Publicado em

Por Agência Estado

A dívida pública global é “muito alta” e deve quebrar a marca de US$ 100 trilhões neste ano, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), em estudo publicado nesta terça-feira, 15. Dentre os países onde a dívida está projetada para aumentar ainda mais, estão Brasil, França, Itália, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos, conforme o organismo, com sede em Washington DC.

Neste ano, a dívida pública mundial como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), principal métrica que os investidores avaliam antes de aportar recursos em um país, deve bater os 93%, projeta o FMI. E o Fundo projeta piora à frente. A expectativa é de que alcance os 100% até 2030, 10 pontos porcentuais acima do registrado em 2019, ou seja, antes da pandemia.

“Os níveis futuros da dívida pública podem ser ainda maiores do que o projetado, e ajustes fiscais muito maiores do que os projetados atualmente são necessários para estabilizá-la ou reduzi-la com alta probabilidade”, dizem os autores do estudo do FMI Era Dabla-Norris, Davide Furceri, Raphael Lam e Jeta Menkulasi.

O documento faz parte do relatório “Monitor Fiscal”, que será publicado na íntegra, na próxima semana, como parte das reuniões anuais do organismo, que acontecem em Washington DC.

O FMI recomenda que os países enfrentem os riscos da dívida com políticas fiscais “cuidadosamente elaboradas” para proteger o crescimento dos países e as famílias vulneráveis, aproveitando o ciclo de flexibilização da política monetária nas principais economias.

Apesar disso, o Fundo alerta que a perspectiva fiscal de muitos países pode ser “pior” do que o esperado por três motivos: grandes pressões de gastos, viés otimista nas projeções de dívida e uma parte considerável da dívida não identificada.

De acordo com os autores, pesquisas anteriores do FMI já alertaram que o discurso fiscal em todo o espectro político tem se inclinado cada vez mais para maiores gastos. “Os países precisarão gastar cada vez mais para lidar com o envelhecimento e a saúde; com a transição verde e a adaptação climática; e com defesa e segurança energética, devido às crescentes tensões geopolíticas”, dizem.

Apesar disso, a experiência sugere que as projeções de dívida tendem a subestimar os resultados reais por uma margem considerável. A proporção da dívida pública em relação ao PIB de determinados países podem aumentar 10 p.p. em cinco anos acima da média projetada, conforme os autores do estudo do FMI.

O Organismo apresenta uma nova estrutura de “dívida em risco” que vincula as atuais condições macrofinanceiras e políticas aos possíveis resultados futuros da dívida. Para isso, analisou 74 países, incluindo o Brasil, além de Estados Unidos, Reino Unido, Japão, China, México, Chile e outros.

Em um cenário severamente adverso, a dívida pública global pode atingir 115% do PIB em três anos, quase 20 p.p. a mais do que o projetado atualmente, alerta o Fundo. Segundo os autores, isso pode ser devido a várias razões: crescimento mais fraco, condições de financiamento mais apertadas, deslizes fiscais e maior incerteza econômica e política.

“É importante ressaltar que os países estão cada vez mais vulneráveis a fatores globais que afetam seus custos de empréstimos, incluindo repercussões de maior incerteza política em países sistematicamente importantes, como os Estados Unidos”, dizem Dabla-Norris, Furceri, Lam e Menkulasi, no estudo.

A dívida não reconhecida é outro risco para o aumento da dívida pública à frente, conforme eles. Análise do FMI feita com mais de 30 países mostrou que 40% da dívida não identificada é fruto de passivos contingentes e riscos fiscais que os governos enfrentam, sendo que a maioria está relacionada a perdas em empresas estatais.

“O ajuste fiscal desempenha um papel crucial na contenção dos riscos da dívida”, afirmam os autores do estudo do FMI, ponderando que o controle da inflação e, consequentemente, a queda dos juros, configuram em um melhor ambiente para as economias absorverem os efeitos de um ajuste fiscal.

No caso de países como Brasil, Índia e África do Sul, o ajuste fiscal exigiria reformas para lidar com a rigidez orçamentária e realocar as despesas para onde elas são mais necessárias. Ainda especificamente sobre o País, o Fundo afirma que a contenção de isenções fiscais ajudaria a mobilizar receitas de forma duradoura para financiar necessidades de desenvolvimento e o alívio da pobreza.

Na visão dos autores, atrasar um aperto nas contas públicas seria “custoso e arriscado”. “Em países onde a dívida está projetada para aumentar ainda mais – como Brasil, França, Itália, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos – atrasar a ação tornará o ajuste necessário ainda maior”, afirmam. Além disso, a demora por um ajuste fiscal pode gerar reações adversas no mercado, restringindo o espaço de manobra das economias diante de turbulências.

A análise do FMI sugere que os ajustes fiscais atuais – em média, de 1% do PIB ao longo de seis anos até 2029 – mesmo se implementados integralmente, não são suficientes para reduzir significativamente ou estabilizar a dívida com alta probabilidade. Um aperto cumulativo de cerca de 3,8% do PIB ao longo do mesmo período seria necessário para uma economia média garantir uma alta probabilidade de estabilização da dívida, calcula o Fundo.

Em países nos quais a dívida não está projetada para se estabilizar, como China e EUA, o esforço necessário em termos de ajuste fiscal é substancialmente maior, alertam os autores. “Mas essas duas maiores economias têm um conjunto muito mais rico de escolhas políticas do que outros países”, ponderam.

Mas o quadro fiscal global não é homogêneo, diz o FMI. Conforme as projeções do Fundo, a dívida pública deve se estabilizar ou diminuir para dois terços dos países analisados.

Google News

Whatsapp CGN 3015-0366 - Canal direto com nossa redação

Envie sua solicitação que uma equipe nossa irá atender você.


Participe do nosso grupo no Whatsapp

ou

Participe do nosso canal no Telegram

Veja Mais
Sair da versão mobile