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Lições da pandemia, por Bill Gates – por Caio Gottlieb

Em artigo publicado há poucos dias na revista The Economist, Bill Gates, precursor e ícone da era das novas tecnologias, reuniu informações privilegiadas da comunidade científica...

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Por Caio Gottlieb

Maior tragédia sanitária mundial do século, que já produz uma devastação econômica superior à crise imobiliária e bancária de 2008, o novo coronavírus ainda esconde muitos mistérios sobre suas origens e desdobramentos, mas uma coisa já é certa: teremos que conviver com ele ainda durante muito tempo.

Em artigo publicado há poucos dias na revista The Economist, Bill Gates, precursor e ícone da era das novas tecnologias, reuniu informações privilegiadas da comunidade científica para expor sua previsão sobre a evolução da pandemia e suas expectativas para a descoberta de medicamentos que levem à cura da Covid-19, destacando o valioso aprendizado que a doença está proporcionando à humanidade.

Para trazer aos leitores do blog um pouco mais de luz sobre esse drama planetário, reproduzo abaixo o texto do cofundador da Microsoft.

Na maior parte da Europa, Leste Asiático e América do Norte, o pico da pandemia provavelmente terá passado até o final de abril.

Há muitas esperanças de que, dentro de algumas semanas, as coisas possam voltar ao que eram em dezembro.

Infelizmente, isso não vai acontecer.

Acredito que a humanidade vencerá essa pandemia, mas apenas quando a maioria da população for vacinada.

Até lá, a vida não voltará ao normal.

Mesmo que os governos levantem as restrições à mobilidade e as empresas reabram suas portas, os seres humanos têm uma aversão natural a se expor a doenças.

Os aeroportos não terão grandes multidões. Os esportes serão disputados em estádios basicamente vazios. E a economia mundial ficará deprimida porque a demanda permanecerá baixa e as pessoas gastarão de maneira mais conservadora.

À medida que a pandemia diminui nos países desenvolvidos, ela se acelera nos países em desenvolvimento. A experiência deles, no entanto, será pior.

Nos países mais pobres, onde menos trabalhos podem ser realizados remotamente, as medidas de distanciamento também não funcionam.

O vírus se espalhará rapidamente e os sistemas de saúde não serão capazes de cuidar dos infectados.

A Covid-19 sobrecarregou cidades como Nova York, mas os dados sugerem que mesmo um único hospital de Manhattan tem mais leitos de terapia intensiva do que a maioria dos países africanos.

Milhões poderão morrer.

Os países ricos podem ajudar, por exemplo, garantindo o abastecimento dos suprimentos críticos a essas nações. Mas as pessoas em lugares ricos e pobres estarão seguras apenas quando tivermos uma solução médica eficaz para esse vírus, o que signica ter uma vacina.

No próximo ano, os pesquisadores médicos estarão entre as pessoas mais importantes do mundo.

Felizmente, mesmo antes dessa pandemia, eles estavam dando saltos gigantes em vacinologia.

As vacinas convencionais ensinam seu corpo a reconhecer a forma de um patógeno, geralmente introduzindo uma forma morta ou enfraquecida do vírus.

Mas há também um novo tipo de imunização que não exige que os pesquisadores gastem tempo cultivando grandes volumes de patógenos.

Essas vacinas de mRNA usam código genético para dar às células instruções sobre como montar uma resposta imune.

Elas provavelmente podem ser produzidas mais rapidamente do que as vacinas tradicionais.

Minha esperança é que, até a segunda metade de 2021, instalações em todo o mundo estejam fabricando uma vacina.

Se for esse o caso, será uma conquista histórica: a humanidade nunca terá passado de maneira tão rápida do reconhecimento de uma nova doença à imunização contra ela.

Além desse progresso nas vacinas, dois outros grandes avanços médicos surgirão da pandemia.

Um será no campo do diagnóstico. Na próxima vez que surgir um novo vírus, as pessoas provavelmente serão capazes de testá-lo em casa, esfregando as narinas.

Os pesquisadores podem ter esse teste pronto dentro de alguns meses após a identicação de uma nova doença.

O terceiro avanço será em medicamentos antivirais. Estes têm sido um ramo da ciência pouco investido. Não temos sido tão eficazes no desenvolvimento de medicamentos para combater vírus quanto os que combatem bactérias.
Mas isso vai mudar.

Os pesquisadores desenvolverão bibliotecas grandes e diversas de antivirais, que poderão verificar e encontrar rapidamente tratamentos eficientes para novos vírus

Todas as três tecnologias nos preparam para a próxima pandemia, permitindo-nos intervir cedo, quando o número de casos ainda é muito baixo.

Mas a pesquisa subjacente também nos ajudará a combater as doenças infecciosas existentes – e até ajudará no avanço da cura para o câncer.

Os cientistas pensam há muito tempo que as vacinas com mRNA podem levar a uma eventual vacina contra o câncer. Até a covid-19, no entanto, não havia muita pesquisa sobre como elas poderiam ser produzidas em massa a preços até um pouco acessíveis.

Nosso progresso não será apenas na ciência. Também estará em nossa capacidade de garantir que todos se beneficiem dessa ciência.

Nos anos seguintes a 2021, acho que aprenderemos com os anos posteriores a 1945. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os líderes construíram instituições internacionais como a ONU para evitar mais conflitos.

Após a covid-19, os líderes prepararão instituições para evitar a próxima pandemia.

Serão uma mistura de organizações nacionais, regionais e globais.

Espero que participem de simulações preventivas regulares da mesma maneira que as forças armadas participam de jogos de guerra. Isso nos manterá prontos para a próxima vez que um novo vírus pular de morcegos ou pássaros para humanos.

Elas também nos prepararão para o caso de alguém criar uma doença infecciosa em um laboratório caseiro e tentar fazer dela uma arma de exterminação biológica.

Ao enfrentar uma pandemia, o mundo também estará se defendendo de um ato de bioterrorismo.

Espero que os países ricos incluam os mais pobres nessas preparações, principalmente dedicando mais ajuda estrangeira à construção de seus sistemas primários de assistência à saúde.

Essa pandemia nos mostrou que os vírus não obedecem às leis de fronteira e que todos nós estamos conectados biologicamente por uma rede de germes microscópicos, gostemos ou não.

Se um novo vírus aparecer em um país pobre, queremos que seus médicos possam identificá-lo e contê-lo o mais rápido possível.

Nada disso é inevitável. A história não segue um curso denido. As pessoas escolhem qual direção tomar e podem fazer a curva errada.

Os anos após 2021 podem se parecer com os anos após 1945. Mas a melhor analogia para hoje pode ser 10 de novembro de 1942.

A Grã-Bretanha acabara de ganhar sua primeira vitória terrestre da guerra, e Winston Churchill declarou em um discurso: “Este não é o fim. Não é nem o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo”.

(Leia e compartilhe outras postagens acessando o site: caiogottlieb.jor.br)

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