Pintura icônica do grito de independência passa por restauro no Museu do Ipiranga

O quadro de quase 32 metros de área foi uma encomenda da família real e do engenheiro arquiteto Tommaso Bezzi, responsável pelo projeto do edifício do...

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Por Agência Estado

Exposta desde a abertura do Museu do Ipiranga, em 1895, a pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo, passa por um longo processo de restauração conduzido pelo Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP).

O quadro de quase 32 metros de área foi uma encomenda da família real e do engenheiro arquiteto Tommaso Bezzi, responsável pelo projeto do edifício do museu. Em 1887, Bezzi trocou cartas com Américo para convencê-lo a ilustrar a cena histórica do Grito do Ipiranga. Américo vivia em Florença em uma época próspera para artistas brasileiros. “Muitos deles receberam bolsas para estudar pintura na Europa”, conta Yara Petrella, conservadora e restauradora do Museu Paulista.

O pintor finalizou o quadro em 1888, 66 anos após o acontecimento. Para a realeza de Pedro I, que investiu na abertura do museu, se tratava de uma grande oportunidade para consolidar a força e o poder monárquico do império. Para tanto, o estilo da pintura tinha função mais que artística na comunicação dos novos tempos da ex-colônia de Portugal. “Américo é um expoente de artistas brasileiros do período acadêmico. As bolsas de estudos proporcionaram imersão em um estilo que servia ao registro histórico de conquistas das nações, a exemplo dos retratos de grandes líderes, como Napoleão.”

Para ela, a representação do primeiro imperador do Brasil e sua postura de contestação – espada em punho – em relação ao domínio português fundaria, entre nós, um novo entendimento de Brasil. “O objetivo era o enaltecimento da família real e do imperador, sem tanto senso crítico, com a expectativa de que fosse compreendido por diferentes públicos.”

Rastreamento

Há quase um ano, Yara e sua equipe iniciaram um delicado processo de análise da obra. Antes de fazer qualquer intervenção no quadro, foi preciso enxergar o que não estava aparente. Com o auxílio do Instituto de Química e do Instituto de Física da USP, a obra de Américo foi escaneada e mapeada de todos os lados. Testes químicos para identificar pigmentos renderam imagens e gráficos. “Identificamos a paleta de cores utilizada pelo pintor e a maneira como concebeu a imagem. Também é possível apontar arrependimentos nas pinceladas ou partes que foram recobertas.”

No caminho até a obra original ainda havia alguns obstáculos. Independência ou Morte sofreu restauros anteriores. Em 1968, a tela passou por limpeza e, em 1972, por envernizamento. No ano de 1986 foi realizado refrescamento, uma ação de preservação, com o uso de solventes. “São procedimentos que aos poucos descaracterizaram parte da obra original”, conta Yara. “O levantamento serviu para entender o estado da obra e indicar caminhos de restauro.”

O que a profissional encontrou não foi muito animador. A extensa faixa inferior do quadro tem diversos pontos amarelecidos. No céu criado por Américo, o estrago era maior. “Há perdas de camadas e, para solucionar o problema, os projetos passados repintaram. Não havia necessidade”, ressalta a restauradora.

O uso de alguns materiais correntes na época também foram identificados, diz Yara. “Hoje não é comum usar tinta a óleo nesse procedimento. Há uma série de materiais disponíveis específicos para restauro que nos oferecem alternativas mais viáveis e seguras.”

Ela afirma que o uso da tecnologia e da ciência amplia as chances de assegurar a conservação de quadros como o de Américo, com mais de 130 anos. “Percebemos que as informações vão se confirmando por diferentes leituras e análises. Além da pesquisa documental, com fotos e registros visuais do quadro.” De posse das informações, a equipe de Yara, composta por cinco profissionais, tem até maio para retirar a camada de verniz antigo em toda extensão da obra e aplicar as correções de cores na região do céu. Algo nada simples diante do tamanho do quadro que embarcou na Itália totalmente enrolado. Para se ter ideia, a tela aberta não passa pelas portas do Museu. “Começamos o trabalho de remoção do verniz, de baixo para cima. É um trabalho delicado, que leva tempo, porque a cada quadrante da tela precisamos mudar os andaimes de lugar.”

Bicentenário

A moldura de madeira, contendo folhas de café projetadas por Américo, enfrenta outro procedimento, explica a restauradora, que tem a parceria da empresa Julio Moraes Conservação e Restauro. O prazo de finalização se estende em função das obras de reforma do Museu do Ipiranga, que está fechado desde 2013. O governo do Estado pretende reabrir o espaço para a comemoração do bicentenário da Independência, em 2022. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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